domingo, 3 de março de 2024

Pensamentos pós I-III Remastered

Quando eu iniciei Tomb Raider I-III Remastered pela primeira vez, no PlayStation 5, não é exagero dizer que atingi o nirvana quando a tela de menu principal, com uma recriação da arte que tão bem conhecemos, surgiu acompanhada do tema atemporal composto por Nathan McCree. Foi uma reação instintiva, inexplicável, e suspeito que todos sentiram exatamente o mesmo naquele momento. 

Enquanto eu explorava os níveis do Peru, aquela sensação que os desenvolvedores haviam prometido, de honrar as memórias que tínhamos desses jogos, se tornou palpável. Eram ambientes extremamente familiares e, mesmo assim, uma experiência completamente renovada. É difícil descrever em palavras essa sensação, mas basta olhar ao redor para perceber o cuidado que a equipe teve com esse projeto.
 
Disponibilizar o recurso para alternar entre o estilo gráfico original e o remasterizado com o simples toque de um botão é sensacional. Você viaja quase 30 anos no tempo instantaneamente, e pode fazer uma comparação imediata do ambiente no qual se encontra. Ao fazer isso pela primeira vez, fica claro que a remasterização vai além de texturas de alta definição, alterando a geometria de áreas onde você não alcança nos níveis para justificar os novos efeitos de iluminação.
 
Inúmeros detalhes menores também são notáveis, coisas como poças d'água, vegetação que balança suavemente com a brisa, vagalumes, e até mesmo ondas na orla da praia inicial de Coastal Village, em Adventures of Lara Croft, foram inseridas para enriquecer ainda mais esse processo de revitalização. 

Felizmente, o trabalho não se restringe apenas aos ambientes. É impossível não apreciar os detalhes dos novos modelos dos personagens e de demais entidades: Lara Croft, como não poderia deixar de ser, está absolutamente fenomenal. Os objetos de decoração também receberam uma reconstrução total, algo que ganha ainda mais destaque em Atlantean Scion onde na maior parte eram simples sprites em 2D, e que agora são objetos propriamente tridimensionais.


Além disso, os humanos, em especial nossa garota, contam com animações faciais, trazendo uma expressividade inédita para as cutscenes que antes dependiam do balancear das cabeças para indicar que o personagem estava falando. No próprio decorrer do jogo Lara movimenta os olhos, pisca, e flexiona os dedos de acordo com diferentes ações. São detalhes sutis, mas que fazem bastante diferença.
 
TR3 recebeu algumas novidades para melhorar o ritmo de jogo, com movimentos extras para navegar os ambientes. É possível dar uma cambalhota enquanto rasteja; pegar itens rastejando sem precisar se agachar; subir do topo de uma escada já agachada; e a cambalhota para descer de beiradas enquanto agachada, introduzida apenas em Chronicles, também está presente. Até mesmo aquela cutscene perdida, na qual Lara acorda na sua cela em High Security Compound, foi restaurada.
 
Todas as artes das telas de loading foram recriadas, bem como os menus principais dos três jogos base — Unfinished Business perdeu sua tela de menu mas recebeu duas artes de loading novas (com variantes para o visual clássico também), enquanto que a tela de menu de Golden Mask se tornou a tela de loading de todos os níveis, e a de The Lost Artifact também deixou de existir. 
 
Mesmo assim, essas remasterizações podem muito bem substituir os lançamentos originais no que diz respeito à preservação do conteúdo. Sabemos como rodar os jogos originais estava cada vez mais difícil de forma legal, seja pela ausência de retrocompatibilidade dos consoles ou o fato que eram jogos para DOS e Windows 95, e os esforços dos fãs em manter esses jogos funcionais sempre será bem-vindo, mas essa coletânea garante um acesso mais facilitado para a próxima década.


Dada a extensão do projeto, eu entendo que algumas áreas receberiam mais atenção do que as outras, mas em alguns momentos parece que o jogo precisaria de mais alguns meses em desenvolvimento. Há uma certa inconsistência na forma como o ouro líquido é retratado em TR2GM, por exemplo, e embora as alterações sejam de encher os olhos em alguns lugares, em outros parece que apenas aplicaram um filtro sobre as texturas originais. Isso pode estar sujeito à alterações, mas só teremos certeza quando lançarem o patch de atualização.

O chamado sistema de controles "moderno" também foi uma decepção, ao menos para mim. Como tenho contato rotineiro com os jogos clássicos, através de incursões diárias no Level Editor, os controles originais são naturais para mim. O sistema de grade sobre o qual os primeiros jogos foi construído é intrínseco às animações de Lara, aos controles, e ao design dos níveis, então para que controles inspirados pela trilogia Legend funcionassem, precisaríamos de um remake aos moldes de Anniversary (ou o Dagger of Xian de Nicobass...).
 
A coletânea usa o sistema de salvamento das versões para PC, então é possível salvar a qualquer momento, mas acho que um sistema de salvamento automático deveria ter sido considerado pois já se tornou o padrão na indústria há mais de três gerações. Lembre-se de salvar com frequência, pois um salto errado ou uma pequena distração podem causar perdas significativas no seu progresso.

Outras ausências infortunas e inexplicáveis são seleção de níveis e de trajes, bem como extras inéditos. Eu adoraria que trajes adicionais fossem destravados ao completar cada jogo com todos os segredos; as possibilidades são infinitas, mas mesmo a versão de ouro de Lara já seria um extra simbólico válido, por exemplo. Colocar trajes dos outros jogos nesse novo modelo de Lara também parecia algo tão simples e eficiente, e é algo que a comunidade de modders já está fazendo para versão de PC...
 
Fã-ntástico
A Aspyr e a Saber contrataram diversos fãs por trás de projetos de destaque na comunidade. Entre outros, estão XProger (de OpenLara), Arsunt (de TR2Main), Troye (de tomb3, tomb4, e tomb5), Konrad Majewski (incontáveis artes), Delca (TRLE), Jason Chester (dos dioramas virtuais), Raina Audron (texturas em HD para TR2) e Giovanni Lucca (texturas em HD para TR3). Parabéns!
 
De forma geral, minhas opiniões sobre os jogos em si pouco mudaram desde que as compartilhei aqui no blog em 2012, durante uma das muitas maratonas que eu costumava fazer: TR1 é um clássico atemporal, TR2 tem ideias boas mas repletas de tiroteios, e não sou grande fã da estrutura repetitiva de TR3 mas é graças a ele que temos o incrível TLA. Ah, eu escrevi uma análise mais detalhada de I-III Remastered para o portal PSX Brasil, confira aqui.
 
Para fins de transparência, deixo expressa minha eterna gratidão à Crystal Dynamics e à Aspyr Media, que gentilmente cederam uma chave de acesso antecipado para os jogos em suas versões PlayStation. E, para todos os efeitos, quero deixar registrado que eu havia realizado a pré-compra da coletânea tanto na Steam quanto no Nintendo Switch.