Quando eu iniciei Tomb Raider I-III Remastered pela primeira
vez, no PlayStation 5, não é exagero dizer que atingi o nirvana quando a tela
de menu principal, com uma recriação da arte que tão bem conhecemos, surgiu
acompanhada do tema atemporal composto por Nathan McCree. Foi uma reação
instintiva, inexplicável, e suspeito que todos sentiram exatamente o mesmo
naquele momento.
Enquanto eu explorava os níveis do Peru, aquela sensação que os
desenvolvedores haviam prometido, de honrar as memórias que tínhamos desses
jogos, se tornou palpável. Eram ambientes extremamente familiares e, mesmo
assim, uma experiência completamente renovada. É difícil descrever em palavras
essa sensação, mas basta olhar ao redor para perceber o cuidado que a equipe
teve com esse projeto.
Disponibilizar o recurso para alternar entre o estilo gráfico original e o
remasterizado com o simples toque de um botão é sensacional. Você viaja quase
30 anos no tempo instantaneamente, e pode fazer uma comparação imediata do
ambiente no qual se encontra. Ao fazer isso pela primeira vez, fica claro que
a remasterização vai além de texturas de alta definição, alterando a geometria
de áreas onde você não alcança nos níveis para justificar os novos efeitos de
iluminação.
Inúmeros detalhes menores também são notáveis, coisas como poças d'água,
vegetação que balança suavemente com a brisa, vagalumes, e até mesmo ondas na
orla da praia inicial de Coastal Village, em
Adventures of Lara Croft, foram inseridas para enriquecer ainda mais esse processo de
revitalização.
Felizmente, o trabalho não se restringe apenas aos ambientes. É impossível não
apreciar os detalhes dos novos modelos dos personagens e de demais entidades:
Lara Croft, como não poderia deixar de ser, está absolutamente fenomenal. Os
objetos de decoração também receberam uma reconstrução total, algo que ganha
ainda mais destaque em Atlantean Scion onde na maior parte eram
simples sprites em 2D, e que agora são objetos propriamente tridimensionais.
Além disso, os humanos, em especial nossa garota, contam com animações
faciais, trazendo uma expressividade inédita para as cutscenes que antes
dependiam do balancear das cabeças para indicar que o personagem estava
falando. No próprio decorrer do jogo Lara movimenta os olhos, pisca, e
flexiona os dedos de acordo com diferentes ações. São detalhes sutis, mas que
fazem bastante diferença.
TR3 recebeu algumas novidades para melhorar o ritmo de jogo, com
movimentos extras para navegar os ambientes. É possível dar uma cambalhota
enquanto rasteja; pegar itens rastejando sem precisar se agachar; subir do
topo de uma escada já agachada; e a cambalhota para descer de beiradas
enquanto agachada, introduzida apenas em Chronicles, também está presente. Até mesmo aquela cutscene perdida,
na qual Lara acorda na sua cela em High Security Compound, foi restaurada.
Todas as artes das telas de loading foram recriadas, bem como os menus
principais dos três jogos base — Unfinished Business perdeu sua
tela de menu mas recebeu duas artes de loading novas (com variantes para o visual clássico também), enquanto que a tela de menu de Golden Mask se tornou a tela
de loading de todos os níveis, e a de The Lost Artifact também
deixou de existir.
Mesmo assim, essas remasterizações podem muito bem substituir os lançamentos
originais no que diz respeito à preservação do conteúdo. Sabemos como rodar os
jogos originais estava cada vez mais difícil de forma legal, seja pela
ausência de retrocompatibilidade dos consoles ou o fato que eram jogos para
DOS e Windows 95, e os esforços dos fãs em manter esses jogos funcionais
sempre será bem-vindo, mas essa coletânea garante um acesso mais facilitado
para a próxima década.
Dada a extensão do projeto, eu entendo que algumas áreas receberiam mais
atenção do que as outras, mas em alguns momentos parece que o jogo
precisaria de mais alguns meses em desenvolvimento. Há uma certa
inconsistência na forma como o ouro líquido é retratado em
TR2GM, por exemplo, e embora as alterações sejam de encher os olhos em alguns
lugares, em outros parece que apenas aplicaram um filtro sobre as texturas
originais. Isso pode estar sujeito à alterações, mas só teremos certeza
quando lançarem o
patch de atualização.
O chamado sistema de controles "moderno" também foi uma decepção, ao menos
para mim. Como tenho contato rotineiro com os jogos clássicos, através de
incursões diárias no Level Editor, os controles originais são naturais para mim. O sistema de grade sobre o
qual os primeiros jogos foi construído é intrínseco às animações de Lara,
aos controles, e ao design dos níveis, então para que controles inspirados
pela trilogia Legend funcionassem, precisaríamos de um remake
aos moldes de Anniversary (ou o Dagger of Xian de Nicobass...).
A coletânea usa o sistema de salvamento das versões para PC, então é
possível salvar a qualquer momento, mas acho que um sistema de salvamento
automático deveria ter sido considerado pois já se tornou o padrão na
indústria há mais de três gerações. Lembre-se de salvar com frequência, pois
um salto errado ou uma pequena distração podem causar perdas significativas
no seu progresso.
Outras ausências infortunas e inexplicáveis são seleção de níveis e de
trajes, bem como extras inéditos. Eu adoraria que trajes adicionais fossem
destravados ao completar cada jogo com todos os segredos; as possibilidades
são infinitas, mas mesmo a versão de ouro de Lara já seria um extra
simbólico válido, por exemplo. Colocar trajes dos outros jogos nesse novo
modelo de Lara também parecia algo tão simples e eficiente, e é algo que a
comunidade de modders
já está fazendo para versão de PC...
Fã-ntástico
A Aspyr e a Saber contrataram diversos fãs por trás de projetos
de destaque na comunidade. Entre outros, estão XProger (de
OpenLara), Arsunt (de
TR2Main), Troye (de
tomb3,
tomb4, e
tomb5), Konrad Majewski (incontáveis artes), Delca (TRLE), Jason Chester (dos
dioramas virtuais), Raina Audron (texturas em HD para TR2) e Giovanni Lucca (texturas em HD para TR3). Parabéns!
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De forma geral, minhas opiniões sobre os jogos em si pouco mudaram desde que
as compartilhei aqui no blog em 2012, durante uma das muitas maratonas que
eu costumava fazer:
TR1 é um clássico atemporal,
TR2 tem ideias boas mas repletas de tiroteios, e
não sou grande fã da estrutura repetitiva de TR3
mas é graças a ele que temos
o incrível TLA. Ah, eu escrevi uma análise mais detalhada de
I-III Remastered para o portal PSX Brasil,
confira aqui.
Para fins de transparência, deixo expressa minha eterna gratidão à Crystal
Dynamics e à Aspyr Media, que gentilmente cederam uma chave de acesso
antecipado para os jogos em suas versões PlayStation. E, para todos os
efeitos, quero deixar registrado que eu havia realizado a pré-compra da
coletânea tanto na Steam quanto no Nintendo Switch.