Como estou de férias, pude acompanhar o desenvolvimento do que pode ser a maior controvérsia na história da franquia Tomb Raider. Esqueça o desastre que foi Angel of Darkness, e até mesmo os DLCs de Underworld perdem relevância perante o anúncio de um jogo integral exclusivo a uma plataforma.
O anúncio aconteceu durante a Gamescom, na Alemanha. O
mesmo trailer de
Rise of the Tomb Raider da E3 foi reapresentado durante a conferência da Microsoft. A única diferença entre os eventos estava no final do trailer, com a ambígua mensagem "
Coming Holiday 2015 | Exclusive [sic]
to Xbox".
Momentos depois, uma mensagem da Crystal Dynamics foi postada no
blog oficial, ao mesmo tempo em que incontáveis pessoas se registravam no fórum para expressar a desaprovação de formas nada sutis. A mensagem é, novamente, ambígua e nada esclarecedora. Tentando apaziguar a situação, eles dizem que não estão abandonando os fãs no PC e PlayStation 4:
Temple of Osiris está vindo e você pode jogar
Tomb Raider: Definitive Edition no PS4!
A revolta por parte da comunidade (não só dos fãs, vide
NeoGAF) se dá pelo jeito que a exclusividade foi feita e anunciada. Exclusividade normalmente resulta em títulos excelentes, capazes de vender consoles. Porém, ao invés de financiar uma franquia nova, o que a Microsoft fez aqui foi pagar para que a concorrência e seus jogadores
não tenham acesso a um jogo de uma empresa terceirizada.
A
Stella organizou uma
petição que angariou aproximadamente 12500 assinaturas em apenas 48 horas. O número provavelmente teria sido muito maior, já que muitas pessoas deixaram de assinar porquê acreditavam que uma petição não faria diferença. Essas pessoas têm razão, afinal o contrato já está assinado e deverá ser cumprido, mas ao menos espera-se que esse manifesto seja considerado antes de contratos futuros.
Numa jogada de marketing muito boa, um representante da Microsoft
afirmou que eles não haviam comprado a
franquia, portanto a Crystal seria livre para fazer o que bem entender quando o contrato terminasse. Dessa forma, obviamente a Microsoft se define como "os caras bons" da história. Novamente, porém, a ambiguidade do comentário é extrema.
A mensagem do blog oficial então recebe um pequeno adendo direcionando pessoas para esse comentário da Microsoft. Ou seja, pelo visto a Crystal não pode se manifestar quanto a isso, o que justificaria a ausência de esclarecimentos, e é uma lástima já que eles sempre tiveram um bom intercâmbio com os fãs. De qualquer forma, em
mensagem enviada para o administrador dos fóruns, eles confirmam que o jogo terá versões para Xbox 360 e Xbox One e, após o término do contrato,
talvez outras plataformas sejam consideradas.
Após resumir a história, agora vou expôr meus pensamentos. Desnecessário dizer, mas tudo ainda é conjectura: enquanto não tivermos informações concretas vindas de fontes oficiais (leia-se Crystal ou Square Enix), só podemos especular.
Em primeiro lugar, cross-gen. Isso por si já é um aspecto negativo para mim. Não importa qual a situação (um jogo de X360 com texturas melhores para XBO; ou um jogo de XBO capado para rodar no X360), é uma péssima decisão. O jogo só vai sair no final do ano que vem, quando a maior parte dos jogadores já vai ter migrado para a nova geração. Ok, até agora não existem motivos, afinal tudo que temos são remasterizações, mas com o lançamento de jogos do calibre de Assassin's Creed: Unity e Batman: Arkham Knight ninguém vai querer ficar para trás. Eu já considero, portanto, a versão para X360 o exato equivalente a versão para PS2 de TRU ‒ só me resta torcer para que ela não comprometa o enorme potencial da versão para XBO.
O favoritismo para o console da Microsoft não é novidade. Reza a lenda que era mais fácil programar jogos para o X360 do que para o PS3, por isso os jogos multiplataforma recebiam ports com falhas ausentes na versão "original" (vide
infâme caso de
Bayonetta). Até onde eu sei, entretanto, essa foi uma das principais mudanças que a Sony fez na estrutura do PS4.
Isso não significa muito, porém. Além dos DLCs de TRU, o reboot também teve um quê de exclusividade. Além do controle oficial (e consoles tematizados que circularam através de promoções), a versão para X360 conta com dois personagens exclusivos para o multiplayer. Também recebeu um dos DLCs antecipadamente, mas considerando-se que são para o modo multiplayer, a "perda" é insignificante.
Eu, infelizmente, testemunhei um fanboy do console choramingando que a
Gold Edition de
TOO não seria lançada para XBO na Europa. É curioso, considerando que esse contrato de exclusividade provavelmente foi assinado há bastante tempo. Esse mesmo fanboy reclamou, então, que o PS3 recebeu as versões remasterizadas de
Legend e
Anniversary (que já existiam para X360, ria) e que o X360 nunca recebeu um dos DLCs de
Guardian of Light. Danem-se
Beneath the Ashes e
Lara's Shadow, certo?
Essa exclusividade também reacendeu aquele ódio dos fãs impertinentes da finada Core Design, mas enfim, este desabafo não está me levando ao meu ponto principal. A pergunta de um milhão de reais é: qual a duração deste contrato, afinal?
Honestamente, eu duvido muito que a Microsoft tenha feito um acordo de curto prazo. Se a intenção é impulsionar as vendas de XBO, eles não teriam comentado dentro de 24 horas que a exclusividade é temporária. Afinal, se você sabe que o jogo vai sair para as outras plataformas pouco depois, você não tem mais motivos para comprar uma plataforma que talvez não tenha interesse, não é?
Essa ostentação da Microsoft para mim praticamente confirma que o contrato vai durar, no mínimo, um ano. Eu aposto em dois. O fato que a Crystal não diz o que vai acontecer e que PC/PS4
talvez venham mais tarde reforça essa tese. Existe a possibilidade que o contrato vá durar tempo suficiente para que o próximo jogo da franquia já esteja em desenvolvimento, tornando
RTR redundante... Portar a versão inferior, de X360 para o PS3 certamente seria, afinal nesse cenário estamos falando de 2017!
Ah sim, para encerrar, não podemos esquecer que a Square chegou a considerar
Tomb Raider um fracasso, apesar do sucesso com a crítica. Após todo esse fiasco e com o público alvo reduzido a um terço, será que
RTR ainda tem chances de impressionar a Square? Pois é...