"Sim. Todos deveríamos desejar ser tão ousados."
Se The Legend of Lara Croft pretendia fazer uma ponte entre as
diferentes continuidades, entrelaçando a trilogia Survivor a
outras aventuras da franquia, ela infelizmente começa com o pé errado.
A Single Step abre com um flashback ocorrido no Chile, onde Lara
(presumidamente com uma idade flutuante entre 18 e 20 anos) e Roth estão em
busca de um artefato seguindo mais uma das inúmeras pistas instintivas de
Richard Croft.
Acontece que já nessa cena, Lara é fluente em espanhol e extremamente capaz:
ela consegue lutar poucos momentos após um crocodilo morder sua panturrilha.
Por qualquer motivo, ela também está sem o colar de jade, seu primeiro achado
arqueológico feito quando ainda era uma mera criança. O traje tem um estilo
similar ao que vimos em Legend, com uma camisa abaixo do decote.
Ao ler entalhes na parede da Casa do Jaguar, Lara fica cética e preocupada com
as consequências que tomar o artefato poderiam causar. Roth fala que ela não
deveria levar as gravuras a sério, afinal é "apenas um tesouro". Na saída, os
supostos protetores do local profetizam que a remoção do artefato vai trazer
morte e destruição (a mesma premissa de Shadow, sim), mas aparentemente era apenas um blefe pois nada disso acontece nos
anos seguintes.
Essa abertura talvez tinha o intuito de explicar para audiências da Netflix,
que não tenham jogado TR2013, a importância de Roth para Lara, mas isso seria desnecessário uma vez que
algumas das cenas mais importantes do dito jogo foram recriadas na animação.
Curiosamente, alguns personagens (Grim, Alex, e Whitman) sequer aparecem no
retrato que Lara tem dessa expedição...
Três anos após essa aventura no Chile, os acontecimentos de Yamatai ainda são
recentes nessa linha temporal, pois Lara não consegue superar a morte de Roth.
Não se conforma em casa, então fica passeando ao redor do mundo para fugir do
próprio passado. Em Chumbivilcas, no Peru, Lara encontra-se numa luta em um
costume local de fim de ano, canalizando sua dor e raiva, quando recebe um telefonema de Jonah pedindo
para que volte para casa.
Jonah, com ajuda de sua noiva Abigaile (após Shadow, portanto) e de Zip, está instalando decorações natalinas em seu novo
restaurante, chamado Pickled Shortbread, e ele insiste que Lara precisa parar
de se martirizar pelo que aconteceu em Yamatai; que precisa se reunir com os
amigos para que possam recomeçar a vida sem Roth. Ao mesmo tempo, Lara
testemunha uma viúva fazendo um ritual à Pachamama, queimando todas as posses
do falecido marido, tentando descobrir quem ela realmente é.
Lara, então, decide voltar para casa. A Mansão Croft não está em ruínas, mas
permanece abandonada (algum momento entre Rise e
Shadow, portanto? O final de Shadow sugeria que Lara havia se mudado
para a mansão...). Quando questiona Jonah sobre Sam, ele desconversa, dizendo
que "ela estava ocupada", dando a entender que Sam ainda estava brava por
conta dos acontecimentos pós Yamatai.
Falemos um pouco sobre Samantha Nishimura. As
histórias em quadrinhos, completamente desconsideradas aqui, diziam que parte do espírito de Himiko
ficou retido no corpo da jovem (mesmo contexto do livro, também irrelevante,
The Ten Thousand Immortals), que passou a lidar com traumas pesados e até mesmo foi presa em um asilo
após assassinar um guarda. Esse foi o argumento oficial para Sam não ter
voltado nas continuações de TR2013, mas eu imagino que a forma como a comunidade reagiu a sua mera existência
teve um peso maior nessa decisão.
Enfim, Lara decide reunir todos artefatos adquiridos por suas figuras paternas
para se livrar deles. Em parceria com o Museu Britânico, a Mansão Croft
hospeda um baile de gala para leiloar alguns desses achados. Um misterioso
homem aborda Lara, dizendo saber que ela está simplesmente tentando se livrar
de seu passado, de suas memórias.
Momentos mais tarde, ainda durante o baile, ele invade a casa e rouba o
artefato de jade que Lara havia encontrado no Chile. Com o apoio de Zip, Lara
consegue perseguir o intruso mas não o alcança a tempo. Existiam centenas de
artefatos no local, a escolha por justamente aquele artefato intriga Lara. Ela
então recorre ao escritório secreto de seu pai, que já se tornou o maior
centro de pesquisas do mundo, e lê em seu diário que existia um outro artefato
similar na China.
Lara prepara as malas para ir para China, para desgosto de Jonah que relembra
que irá se casar com Abigaile em duas semanas. Contrariando seu próprio
desejo, de se livrar de seu passado, Lara briga com Jonah, afirmando que o
artefato roubado era importante pois simbolizava a última aventura que fez com
Roth antes de Yamatai. Enquanto isso, o homem misterioso abre o artefato e é
tomado por um poder maior, que permite-lhe exercer controle mental sobre
outros humanos.
Uma súbita tempestade se forma; o início da era do caos, como ele mesmo
prescreve.
Outras observações aleatórias sobre esse primeiro episódio:
- Uma excêntrica senhora loira é destacada, sozinha, no baile de gala. Hmm...
- Com exceção de Jonah, os personagens do arco de Yamatai recebem novas vozes: Sam é interpretada por Karen Fukuhara, atriz que interpreta Kimiko na série The Boys (assista!); Reyes ficou sob responsabilidade de Mara Junot; e Roth é dublado por Nolan North, conhecido por interpretar o questionável protagonista da franquia rival...
- O folheto do evento de gala diz que o grande Richard Croft descobriu uma máscara africana na Colômbia. Ou seja, a segunda temporada possivelmente terá o mesmo ponto de partida, pela enésima vez...
Peço desculpas pelo tom sarcástico em alguns trechos. LOLC, de forma geral, faz muita coisa bacana, mas também cai nas mesmas
armadilhas previsíveis — e, pior de tudo, não se encaixa de forma adequada no
cânone. Como eu disse
quando o filme de Alicia Vikander estreou, cabe a você decidir qual dos aspectos tem mais valor e em qual lado dessa
divisa prefere estar. Apenas peço que tome essa decisão conscientemente, ao
invés de meramente repetir opiniões de outras pessoas.