Apesar de não ter sido o primeiro título do estúdio, Gex é
essencialmente o marco zero da Crystal Dynamics. O jogo de plataforma 2D foi
lançado em abril de 1995, com a promessa de avançar o que se esperava do
gênero com a presumida tecnologia do console 3DO. A história ditou o
contrário, já que a plataforma foi um fracasso comercial, mas
Gex foi portado para as demais plataformas e se provou popular o
suficiente para receber duas continuações ainda naquela geração.
O protagonista titular é um jovem calango obcecado por televisão. Ele é sugado
para dentro desse universo e precisa explorar diferentes mundos, coletando
controles remotos para habilitar novos canais até derrotar o antagonista Rez,
soberano da dimensão televisiva. O que realmente diferencia esse jogo de
outros do gênero (para a época) é que Gex faz comentários sarcásticos e ácidos
o tempo inteiro, e referências a séries e filmes são constantes.
Os níveis são construídos levando em consideração a habilidade única do réptil
de aderir à qualquer superfície, e até mesmo o fundo do cenário é uma opção
para isso. Com essa possibilidade navigacional, os níveis não são exatamente
lineares, oferecendo diversos caminhos e até mesmo áreas bônus secretas. De
resto, segue muitas fórmulas estabelecidas pelo gênero de plataforma 2D; por
exemplo, a cada 100 moscas douradas coletadas você obtém numa vida extra,
poderes temporários podem ser encontrados no cenário, e você elimina os
inimigos com ataques corporais (neste caso, com o rabo).
É um jogo curto, mas bastante desafiador. A versão
para PC disponível através da plataforma GOG não permite salvar seu progresso,
sendo necessário encontrar fitas VHS escondidas ou completar mundos para
receber uma senha para retomar o progresso posteriormente. Os níveis costumam
ser abertos e extensos, e a baixa quantidade de checkpoints vai testar sua
paciência para aprender com seus erros e memorizar os caminhos. Ao menos para
mim, a frustração foi constante por conta do design deliberadamente punitivo,
apenas não desisti pois usei uma trapaça para ter vidas infinitas.
O segundo jogo, Enter the Gecko, fez a transição para plataforma em 3D. Estruturalmente, lembra bastante
Super Mario 64, onde cada mundo possui um número de controles remotos (no lugar das
estrelas), cada qual levando por trajetos ou objetivos levemente diferentes. A
navegação é muito limitada: por conta da época, é restrita aos comandos
digitais, acompanhados dos botões L1 e R1 para girar a câmera, e,
curiosamente, Gex perdeu sua principal característica de aderir a qualquer
superfície, fazendo isso apenas em locais pré-determinados.
Muito se perdeu nessa transição, embora a essência do protagonista, com seus
comentários incessantes, esteja ali. Gex agora veste trajes de acordo com os
mundos que explora, mas admito que, assim como o primeiro jogo, estive bem
perto de desistir. São apenas 35 controles (excluindo-se todos os controles
secretos e bônus), e perto do décimo eu já estava saturado do ciclo de
gameplay. Me forcei a finalizar, com o mínimo de controles possível, pois a
jogabilidade envelheceu como leite.
O sistema de câmera é muito ruim, é difícil acreditar que naquela época era
aceitável e até mesmo comum. Nosso Tomb Raider teve o
"benefício" silencioso de ter uma câmera travada, mas ao menos funcional,
durante toda sua primeira era, e me atrevo a dizer que toda aquela geração,
onde vimos o surgimento de jogos totalmente em 3D, envelheceu mal.
Objetivamente falando, digo, pois obviamente todos temos memórias carinhosas
da época por uma série de fatores.
Com essa dificuldade em encontrar forças para terminar os dois primeiros
jogos, cogitei abandonar essa postagem pois sabia que não traria uma visão
positiva aqui. E, sem qualquer surpresa, posso dizer que o último jogo da
série,
Deep Cover Gecko, é amplamente igual ao anterior. A fundação é a mesma, com a adição de
aliados como o mordomo Alfred (sim) e a agente Xtra, parceira de Gex que foi
sequestrada. Curiosamente, ela é interpretada por uma atriz da série
Baywatch e inserida no jogo através de cenas em live action. É
um verdadeiro retrato da época, honestamente falando, já que a atriz faz
insinuações em praticamente todas aparições.
O jogo insere alguns trajes com habilidades especiais (como planar ou
superforça), hubs secundários, montarias de todos os tipos, e um sistema de
colecionáveis que permite expandir a vida do calango. De resto, mantém a mesma
fórmula, na qual você repete um mesmo mundo, cumprindo rotas ou objetivos
diferentes, para obter novos controles remotos. A diferença talvez esteja no
tamanho dos mundos, notei que eram cada vez maiores, o último sendo no topo de
arranha-céus de uma cidade moderna — e bem cansativo de se navegar, diga-se de
passagem.
Eu encontrei uma Lara Croft escondida no jogo, na arena do primeiro chefe, e só a vi por acaso enquanto estava filtrando
as capturas de tela para ilustrar esta postagem:
Apesar do que a tonalidade dessa postagem possa indicar, eu sinto que há
espaço para jogos como Gex no mercado atual — afinal, o
excelente
Super Mario Odyssey
está aí para provar isso. Um novo jogo, com controles e mecânicas modernas,
poderia fazer jus à franquia. Não sabemos quais eram as intenções da Square
Enix quando fizeram aleatoriamente um novo registro de marca (pouco antes de
determinar que a Crystal Dynamics e suas franquias não tinham mais valor
algum), mas talvez agora a Embracer Group viabilize uma variada no portifólio
da desenvolvedora...