Finalmente surgiu uma oportunidade para adquirir e conferir
Marvel's Avengers, a mais recente empreitada da Crystal Dynamics. A recepção do jogo foi
bem aquém
do que se esperava, principalmente por conta do peso das propriedades
intelectuais envolvidas, mas considerando-se que foi um ano repleto de
contratempos e adversidades, quero acreditar que uma virada ainda seja
possível.
Eu não sou grande fã do universo Marvel de forma geral. Tenho uma certa
aversão aos filmes, mas joguei um bom número de jogos envolvendo seus
personagens, como a série Marvel vs Capcom e, mais recentemente,
Marvel's Spider-Man. Também carrego comigo boas lembranças de
Marvel Ultimate Alliance 2, em particular pelo seu excelente modo cooperativo local.
Dito isso, devo admitir que me surpreendi com o quanto eu gostei da campanha
de Avengers. Com toda a atmosfera negativa em torno do jogo, eu estava convencido que me
arrependeria da compra. Existem, sim, alguns problemas técnicos, e talvez a
abordagem de jogo como serviço não tenha sido a melhor decisão executiva a se
fazer, mas mesmo assim o jogo possui um potencial tremendo. E, perdoem o tom
de "fanboy facilmente impressionável", mas a jogabilidade é divertida e a
campanha por si vale o preço de entrada, em minha opinião.
Como o foco da publicidade do jogo era justamente esse aspecto de
"jogo vivo", talvez muitas pessoas sequer saibam que existe uma longa e
detalhada campanha para um jogador. Tomando como partida o fatídico Dia dos
Vingadores, onde uma tragédia causou a criação dos ditos Inumanos e a
dissipação dos heróis, assumimos o controle da jovem Miss Marvel em busca da
verdade e da redenção dos seus ídolos perante a sociedade.
Existe uma admirável quebra de paradigmas ao colocar os holofotes em Miss
Marvel: Kamala é uma garota paquistanesa e muçulmana. Ela cresce de fã dos
Vingadores para se tornar uma heroína por si, e desenvolve um relacionamento
muito bacana com Bruce Banner. Eu não tenho certeza de que o mundo, no estado
atual, está preparado para uma protagonista que foge tanto dos velhos padrões
(será que algum dia estará?), mas aplaudo a ousadia. Aliás, a dubladora de
Kamala, Sandra Saad,
foi reconhecida com um Golden Joystick
por sua excelente performance.
Embora Miss Marvel seja, ironicamente, a grande protagonista de
Avengers, existe um rodízio entre todos os heróis do grupo no decorrer da campanha.
Progressivamente assumimos o controle dos figurões Hulk, Homem de Ferro, Thor,
Viúva Negra e, por fim, Capitão América. Cada um possui habilidades e
características únicas. Na versão beta, eu considerava Miss Marvel a minha
personagem favorita, mas, com (muito) mais tempo investido no jogo final,
posso afirmar que Capitão América tomou esse posto.
A maior crítica sobre o jogo diz respeito à baixa variedade de atividades e
ambientações. O intuito do jogo era "prender" o jogador, fazendo-o investir
horas a fio em busca de melhores equipamentos e níveis de experiência. Para
isso, o sistema de missões acompanha sua progressão, sempre oferecendo um
desafio (e recompensas) a altura, mas acabam sempre parecendo a mesma coisa.
Essencialmente, siga os marcadores enquanto surra tudo que estiver no seu
caminho.
Jogando de forma moderada, isso talvez não se torne um problema, mas como o
próprio jogo oferece uma miríade de tarefas paralelas, mesmo que simples, é
notável que faltou um certo elemento para prender a atenção dos jogadores. Eu
devo admitir que estou escrevendo essa postagem sem sequer ter experimentado
partidas online, o que teoricamente deveria ser um dos principais aspectos do
jogo. Gosto de explorar completamente os ambientes, checando cada um dos marcadores
secundários, então sinto que não teria muita sorte com o matchmaking
público...
Saindo um pouco do escopo do jogo em si, é impossível não refletir sobre as
consequências que o baixo número de vendas pode causar. Os gastos de licença e
desenvolvimento certamente exigiriam um quantitativo absurdo para reverter em
lucro, o que talvez justifique a existência das infâmes (e caras)
microtransações. Adicione a isso o conceito de jogo como serviço — que também
não é bem visto pela comunidade em geral —, e controvérsias anteriores ao
lançamento, como o anúncio de
Homem-Aranha como um personagem exclusivo para PlayStation, e o potencial público-alvo torna-se cada vez menor...
BRL 55+ por um simples traje? Não, obrigado. |
Entretanto, como eu disse no começo, uma virada ainda pode ser possível. Casos
similares, como No Man's Sky ou Final Fantasy XIV, provam que um lançamento fraco pode ser revertido desde que o estúdio se
comprometa em fazer justamente isso. Tudo depende de como a Square e a Marvel
vão encarar essas cifras, e vale lembrar que desde o início a Crystal Dynamics
prometia um suporte prolongado, com novos heróis (como
Kate Bishop, que chega nos próximos dias) e missões; a longo prazo, pode ser justamente o que o jogo precisa. Não
acredito em um súbito cancelamento em massa — apesar de que isso tenha
acontecido com a última leva de conteúdo adicional para
Final Fantasy XV.
Honestamente, meu medo é de que a Square Enix opte por se desfazer da Crystal
Dynamics, tal qual fez com a IO Interactive alguns anos atrás. Seguindo essa
hipótese, a franquia Tomb Raider poderia ser vendida juntamente
com o estúdio ou, pior, poderia cair em um limbo até que a Square tivesse
novos planos para ela. Ainda é a terceira maior franquia no rol da gigante
japonesa, perdendo apenas para Final Fantasy e
Dragon Quest, o que torna toda essa especulação ainda mais trivial.
Por fim, apenas para esclarecimento: Raider Daze é, sim, um blog
dedicado exclusivamente a Tomb Raider. Entretanto, há tempos eu cogitava a ideia de dedicar postagens a outros
jogos dos estúdios, tais como Project Eden e a saga
Legacy of Kain. Após quase cinco anos de procrastinação, é seguro dizer que esse marcador
não será tão movimentado quanto poderia, mas, como é justamente
Avengers que está nos privando de Croft neste momento, parecia
ser um ponto inicial adequado...