terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Pensamentos pós Marvel's Avengers

Finalmente surgiu uma oportunidade para adquirir e conferir Marvel's Avengers, a mais recente empreitada da Crystal Dynamics. A recepção do jogo foi bem aquém do que se esperava, principalmente por conta do peso das propriedades intelectuais envolvidas, mas considerando-se que foi um ano repleto de contratempos e adversidades, quero acreditar que uma virada ainda seja possível.

Eu não sou grande fã do universo Marvel de forma geral. Tenho uma certa aversão aos filmes, mas joguei um bom número de jogos envolvendo seus personagens, como a série Marvel vs Capcom e, mais recentemente, Marvel's Spider-Man. Também carrego comigo boas lembranças de Marvel Ultimate Alliance 2, em particular pelo seu excelente modo cooperativo local.

Dito isso, devo admitir que me surpreendi com o quanto eu gostei da campanha de Avengers. Com toda a atmosfera negativa em torno do jogo, eu estava convencido que me arrependeria da compra. Existem, sim, alguns problemas técnicos, e talvez a abordagem de jogo como serviço não tenha sido a melhor decisão executiva a se fazer, mas mesmo assim o jogo possui um potencial tremendo. E, perdoem o tom de "fanboy facilmente impressionável", mas a jogabilidade é divertida e a campanha por si vale o preço de entrada, em minha opinião.

Como o foco da publicidade do jogo era justamente esse aspecto de "jogo vivo", talvez muitas pessoas sequer saibam que existe uma longa e detalhada campanha para um jogador. Tomando como partida o fatídico Dia dos Vingadores, onde uma tragédia causou a criação dos ditos Inumanos e a dissipação dos heróis, assumimos o controle da jovem Miss Marvel em busca da verdade e da redenção dos seus ídolos perante a sociedade.


Existe uma admirável quebra de paradigmas ao colocar os holofotes em Miss Marvel: Kamala é uma garota paquistanesa e muçulmana. Ela cresce de fã dos Vingadores para se tornar uma heroína por si, e desenvolve um relacionamento muito bacana com Bruce Banner. Eu não tenho certeza de que o mundo, no estado atual, está preparado para uma protagonista que foge tanto dos velhos padrões (será que algum dia estará?), mas aplaudo a ousadia. Aliás, a dubladora de Kamala, Sandra Saad, foi reconhecida com um Golden Joystick por sua excelente performance.

Embora Miss Marvel seja, ironicamente, a grande protagonista de Avengers, existe um rodízio entre todos os heróis do grupo no decorrer da campanha. Progressivamente assumimos o controle dos figurões Hulk, Homem de Ferro, Thor, Viúva Negra e, por fim, Capitão América. Cada um possui habilidades e características únicas. Na versão beta, eu considerava Miss Marvel a minha personagem favorita, mas, com (muito) mais tempo investido no jogo final, posso afirmar que Capitão América tomou esse posto.


A maior crítica sobre o jogo diz respeito à baixa variedade de atividades e ambientações. O intuito do jogo era "prender" o jogador, fazendo-o investir horas a fio em busca de melhores equipamentos e níveis de experiência. Para isso, o sistema de missões acompanha sua progressão, sempre oferecendo um desafio (e recompensas) a altura, mas acabam sempre parecendo a mesma coisa. Essencialmente, siga os marcadores enquanto surra tudo que estiver no seu caminho.
 
Jogando de forma moderada, isso talvez não se torne um problema, mas como o próprio jogo oferece uma miríade de tarefas paralelas, mesmo que simples, é notável que faltou um certo elemento para prender a atenção dos jogadores. Eu devo admitir que estou escrevendo essa postagem sem sequer ter experimentado partidas online, o que teoricamente deveria ser um dos principais aspectos do jogo. Gosto de explorar completamente os ambientes, checando cada um dos marcadores secundários, então sinto que não teria muita sorte com o matchmaking público...

Saindo um pouco do escopo do jogo em si, é impossível não refletir sobre as consequências que o baixo número de vendas pode causar. Os gastos de licença e desenvolvimento certamente exigiriam um quantitativo absurdo para reverter em lucro, o que talvez justifique a existência das infâmes (e caras) microtransações. Adicione a isso o conceito de jogo como serviço — que também não é bem visto pela comunidade em geral —, e controvérsias anteriores ao lançamento, como o anúncio de Homem-Aranha como um personagem exclusivo para PlayStation, e o potencial público-alvo torna-se cada vez menor...

BRL 55+ por um simples traje? Não, obrigado.

Entretanto, como eu disse no começo, uma virada ainda pode ser possível. Casos similares, como No Man's Sky ou Final Fantasy XIV, provam que um lançamento fraco pode ser revertido desde que o estúdio se comprometa em fazer justamente isso. Tudo depende de como a Square e a Marvel vão encarar essas cifras, e vale lembrar que desde o início a Crystal Dynamics prometia um suporte prolongado, com novos heróis (como Kate Bishop, que chega nos próximos dias) e missões; a longo prazo, pode ser justamente o que o jogo precisa. Não acredito em um súbito cancelamento em massa — apesar de que isso tenha acontecido com a última leva de conteúdo adicional para Final Fantasy XV.

Honestamente, meu medo é de que a Square Enix opte por se desfazer da Crystal Dynamics, tal qual fez com a IO Interactive alguns anos atrás. Seguindo essa hipótese, a franquia Tomb Raider poderia ser vendida juntamente com o estúdio ou, pior, poderia cair em um limbo até que a Square tivesse novos planos para ela. Ainda é a terceira maior franquia no rol da gigante japonesa, perdendo apenas para Final Fantasy e Dragon Quest, o que torna toda essa especulação ainda mais trivial.

Por fim, apenas para esclarecimento: Raider Daze é, sim, um blog dedicado exclusivamente a Tomb Raider. Entretanto, há tempos eu cogitava a ideia de dedicar postagens a outros jogos dos estúdios, tais como Project Eden e a saga Legacy of Kain. Após quase cinco anos de procrastinação, é seguro dizer que esse marcador não será tão movimentado quanto poderia, mas, como é justamente Avengers que está nos privando de Croft neste momento, parecia ser um ponto inicial adequado...