quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Conto: Deathmatch

Acredito que a forma mais eficaz para resumir o teor deste conto, escrito originalmente em 2004, seria descrevê-lo como uma adaptação literária do meu último projeto com o Level Editor: Vendetta!. Brevemente explicado, Sophia Leigh roubou certos artefatos de Lara Croft e ela os deseja de volta. A aventura parte da Mansão Croft até um zoológico, onde o escore é, novamente, acertado.

A versão original tinha 3004 palavras, enquanto esta, revisada, tem 4053. Como eu mencionei anteriormente, mais do que simplesmente traduzir, eu reescrevi o conto quase que integralmente, melhor descrevendo alguns trechos e removendo outros. Ao longo do processo, também percebi que seria melhor segmentar o texto para dinamizar a leitura, mesmo que o conto seja relativamente curto.

Afterlife vai receber o mesmo tratamento, num futuro próximo. Qualquer tipo de comentário quanto à esses trabalhos é bem vindo e será levado em consideração para futuros projetos.

[ * * * ]



Mansão Croft. Noite.

Lara estava cansada. Recém chegada de uma expedição frustrada, ela decidiu que tomaria um longo e relaxante banho. Seu cansaço era tão evidente que, em seu caminho aos seus aposentos, ela sequer percebeu que Winston não a recepcionou, como sempre fazia. Os únicos pensamentos em sua cabeça diziam respeito à um chuveiro quente e um colchão macio. 

Em seu quarto, Lara ligou o rádio, procurou em sua enorme coleção de discos um vinil com composições clássicas de Bach, aumentou o volume para eliminar a distração que qualquer ruído poderia causar, e dirigiu-se ao banheiro. Lara abriu o chuveiro e, enquanto aguardava a água esquentar, despiu-se apreciando a privilegiada vista que as grandes janelas permitiam. Era uma noite calma e escura, uma fina e incessante chuva pareada com ocasionais relâmpagos davam vida a um céu nebuloso e cinzento.

Após alguns minutos considerando aquilo que não ocorreu como esperado naquele dia, Lara entrou no banho. A água morna massageando sua tenra pele, finalmente, trouxe à Lara o tão merecido descanso e relaxamento pelo qual ela tanto ansiara. 

 * * * 

Sophia Leigh, eis uma mulher complicada. Num passado não muito distante, havia oferecido um emprego à Lara Croft. Lara não só recusou a oferta, como também colocou a vida da empresária em risco por conta de um determinado artefato que ela portava. Após ter dado Sophia como morta, Lara reivindicou posse do artefato, mas não sem inadvertidamente criar uma inimiga eterna naquele exato momento. Sophia prometeu a si mesma que se vingaria a qualquer custo, e nem mesmo a morte foi capaz de detê-la.

Sabendo que a aventureira era uma colecionadora compulsiva de antiguidades, Sophia assumiu que seu artefato estaria em algum aposento da gigantesca mansão Croft. O patrimônio, curiosamente, não contava com qualquer sistema de segurança, embora era conhecimento popular de que as poucas pessoas que se atreveram à cruzar o caminho de Lara Croft não tiveram finais felizes.

Com o devido estudo das instalações externas, Sophia presumiu que a forma mais fácil de invadir o lar de sua inimiga seria pelo vitral da abóbada no sótão. Visando a maior discrição possível, Sophia envolveu sua mão com uma toalha e soqueou o vidro, estilhaçando-o em inúmeros pedaços. Uma vez dentro da mansão, ela se escondeu em um dos cantos escuros do aposento e aguardou alguns minutos. Nenhuma reação ao barulho.

Descendo as escadas de acesso ao saguão principal, Sophia se sentiu extremamente familiar com o ambiente ao seu redor ‒ embora não tivesse conhecimento algum do interior da mansão Croft. Sem entender como ou porquê, ela conseguia sentir a presença do Olho de Ísis, seu artefato, e instantaneamente soube determinar sua exata localização.

No primeiro andar da mansão, através de uma porta à direita das gloriosas portas de entrada ao saguão. Dentro do cubículo, um rápido giro de 360º não lhe deixou dúvidas: estava em uma das diversas salas de tesouro de Croft. Seus olhos, porém, foram de encontro imediato ao seu tão desejado Olho de Ísis, dentro de uma redoma cristalina.

Próximo a ele, alguns outros objetos de formatos diferentes, mas, aparentemente, feitos a partir da mesma matéria-prima. Não havia tempo, tampouco necessidade, para pensar duas vezes.

* * * 

Saindo de seu merecido banho, Lara vestiu seu robe e retornou para seu quarto. Desligou o rádio, que ainda tocava relaxantes músicas clássicas e caminhou em direção à sua cama. Somente então notou um bilhete deixado em sua cabeceira. Era de Winston; ela leu o bilhete atenciosamente e sorriu: Winston havia tirado o dia de folga.

Deitada na cama, ainda ponderando sobre os acontecimentos do dia, seus pensamentos frequentemente recorriam ao mesmo destino. Aquele estranho artefato que ela havia tomado de Sophia Leigh, que insistia em chamá-lo de Olho de Ísis, algumas semanas antes.

Diversas teorias pipocavam em sua cabeça. Ela sabia que Ísis não só era a deusa egípcia da magia, mas, também, dos mortos. Após atingir Sophia com uma descarga elétrica forte o bastante para derrubar um elefante, Lara foi surpreendida num segundo encontro com a mesma mulher ‒ como se nada tivesse ocorrido. Uma irmã gêmea? Pouco provável. Um exército de clones? Menos ainda.

Por algum motivo, Sophia estava presa à este mundo, incapaz de abandonar a vida que sempre levou.

Uma investigação mais detalhada do artefato poderia resultar em alguma forma de revelação sobre seus reais poderes. Lara levantou-se e caminhou até a câmara de tesouros onde havia guardado os artefatos. Dentro do aposento, Lara imediatamente percebeu que nem tudo estava como antes. Os quatro artefatos, forjados a partir de um meteoro que atingiu a Terra milênios atrás e que renderam longos meses de viagens ao redor do globo, não estavam mais ali.

Em uma fração de segundos, Lara checou os acessos à casa nos dois primeiros andares. Portas principais, acesso pelos fundos, janelas - tudo estava devidamente trancado. Todos os pertences de Lara, inclusive inúmeros tesouros de outras expedições, permaneciam intactos. O perpetrante tinha um único e exclusivo interesse por aqueles artefatos, e os poucos indivíduos que sabiam da existência e importância destas relíquias estavam todos... mortos.

As peças começaram a se encaixar. Parecia que a noite de sono que Lara almejava ficaria para outra oportunidade. Com uma notável rapidez, Lara retornou à seu quarto, vestiu roupas limpas, pegou seus coldres e mochila, e dirigiu-se à garagem, no subsolo da mansão.

Enquanto descia as escadas, Lara ouviu um ruído um tanto quanto familiar. O ladrão ainda estava dentro da mansão, e estava abandonando o local do crime com o Jipe de Lara! Lara não conseguiu enxergar o rosto do meliante, mas seus longos cabelos dourados não deixavam dúvida alguma. Sophia não conteve o sorriso que tomou seu rosto, enquanto observava Lara, tentando absorver o que acabara de acontecer, pelo espelho retrovisor.

Lara sabia o que fazer. Foi até a bancada de chaves de sua invejável coleção de automóveis, pegou a primeira que alcançou e adentrou seu Porsche. Tomada por raiva, Lara não conseguia dar a partida do veículo. Maldição, pensou. Respirou fundo, girou a ignição com calma e, finalmente, pôde iniciar a perseguição à loira.

* * * 

De dentro da garagem, Sophia havia aberto apenas a saída imediatamente eu seu caminho; não teve a mesma sorte com os imponentes portões de acesso à rua. Felizmente, o Jipe no qual se encontrava mais parecia uma escavadeira, arremessando os portões para lados opostos e permitindo sua fuga. Ou assim ela pensara: o espelho retrovisor logo revelou um veículo se aproximando mais rápido do que ela gostaria.

Suas tentativas para despistar a única pessoa que poderia estar perseguindo-lhe se provaram inúteis. Nada parecia capaz de impedir a mulher no outro carro. Lara também, obviamente, era uma motorista muito mais qualificada que Sophia, então foi uma simples questão de tempo até que ela alcançasse seu Jipe. Num misto de fúria e culpa, Lara começou a colidir o Porsche que diriga com a traseira do seu Jipe.

O rosto de Sophia esboçava sinais de preocupação. Sem tirar o pé do acelerador, ela levantou seu cetro, reiterado com o Olho de Ísis. A perseguição desenfreada continuava, mas um relance de Lara lhe atentou ao que Sophia planejava fazer. Lara mordeu seu lábio enquanto, mais uma vez, forçava mais um impacto entre os carros. A distração causada foi o suficiente para que Sophia fosse incapaz de conjurar os poderes mágicos do artefato.

Determinada a parar o Jipe à qualquer custo, Lara voltou a repetir a ação. Uma série de colisões depois, o Jipe finalmente capotou. Na minúscula margem de tempo antes que ficasse completamente de cabeça para baixo, Sophia levitou e escapou ilesa do que seria, sem dúvida, um acidente fatal para qualquer outro humano. Para sua sorte, ela havia chegado ao seu destino original: um agourento zoológico.

Ao puxar o freio de emergência, os pneus do Porsche imprimiram no asfalto rastros de uma curva de quase 180º. Lara rapidamente saltou do carro e encaminhou-se para o zoológico que Sophia acabara de adentrar.

* * * 

Lara havia perdido Sophia de vista. O zoológico era vasto, oferecendo à sua presa diversos possíveis esconderijos. Uma rápida leitura do ambiente revelava que o ambiente era segregado em três áreas distintas: aviário, aquários e uma área onde estavam os animais terrestres.

Tomando o caminho à direita, Lara se encontrou caminhando entre os ferozes animais terrestres. Além de estavam devidamente enclausurados, muitos deles apreciavam um sereno repouso. Lara sentiu uma certa inveja, mas, ao mesmo tempo, sorriu pela mudança de hábitos: desta vez, nenhum deles a considerava uma ameaça a ser imediatamente exterminada.

O único local onde Sophia poderia ter se escondido, caso estivesse nessa ala do zoológico, seria uma central de segurança. Sem pestanejar, Lara invadiu o prédio, tão somente para encontrar problemas. O relógio na parede marcava dois minutos para três horas da manhã, e os guardas de plantão não foram surpreendidos. Na verdade, estavam bem cientes de que esta não era uma visitante comum.

Um dos guardas sacou sua pistola e manteve Lara sob sua mira. Suas mãos tremiam bastante, Lara percebeu. De canto de olho, ela notou que outros três homens, portanto cassetetes, vinham à seu encontro. Seria uma batalha fácil ‒  para ela.

O primeiro guarda levantou seu cassetete para atingir Lara com força, mas, antes que ele pudesse assimilar a reação da moça, ela saltou em sua direção, pegou impulso sobre seu ombro direito, sacou uma de suas duas H&K USP e virou-se, ainda no ar. Um único disparo, um acerto, um guarda eliminado. A performance exibicionista de Lara instigou raiva nos demais guardas.

Com um salto acrobático para trás, Lara tomou impulso com sua mão direita enquanto mirava com a esquerda. Ainda de ponta-cabeça, disparou e derrubou o segundo homem. De pé, firmou a arma com as duas mãos e disparou uma última vez, bem no meio dos olhos do terceiro guarda. Armas de curto alcance nunca teriam chance contra armas de fogo, especialmente quando portadas por Lara Croft.

Apenas um guarda permanecia vivo e, curiosamente, era o único deles com uma arma de fogo. Um penetrante olhar de Lara foi o suficiente para causar-lhe calafrios. O rapaz era incapaz de puxar o gatilho, e agora temia encarar o mesmo destino que seus colegas. Por um momento, ele ponderou como as coisas teriam acontecido, tivesse ele tido coragem e uma mão firme o suficiente para alvejar a invasora.

Tarde demais. Ela havia derrotado três homens sem dificuldade alguma, e, agora, estava frente a frente com ele. "Diga-me onde ela está, e eu poupo sua vida," ela disse, sem esboçar qualquer tipo de emoção. O rapaz não hesitou e revelou a existência de uma espécie de búnquer dentro da central. Lara deixou que ele partisse, enquanto caminhava em direção à câmara.

A sala era escura de tal forma que Lara era incapaz de ver um palmo à frente de seu rosto. Sob a iluminação de um sinalizador químico, à área se revelou muito menor do que ela imaginava. O único ponto de interesse no local foi uma alavanca. Instintivamente, Lara acionou-a e pôde ouvir um mecanismo em movimento.

Uma detalhada exploração do resto da sala não revelou a existência de qualquer outro tipo de saída ou segredo; Lara precisaria encontrar outra forma para descobrir o que a alavanca havia operado.

Retornando à central de segurança, Lara considerou que ter deixado o guarda partir não foi a melhor decisão que poderia ter feito. Reforços poderiam estar a caminho ou, até mesmo, cercando o prédio neste exato momento. Felizmente para ela, não parecia ser o caso.

* * * 

Com um terço do zoológico fora da equação, Lara dirigiu-se ao aquário. Dentro de magníficos tanques de água, diversos peixes e outras formas exóticas de vida marinha agraciavam a entrada. Assim como os tigres minutos atrás, ela deixou escapar uma breve risada por não estar compartilhando aquelas águas.

Poucos metros à frente, um dos maiores espetáculos do zoológico: um gigantesco aquário com três tubarões, acima de um túnel de vidro que o atravessava de um lado ao outro. Para evitar qualquer tipo de acidente, este aquário era matido de forma diferente. Além dos vidros extremamente reforçados, existia uma camada de aproximadamente um metro de largura que separava os dois ambientes. O isolamento acústico proporcionado por essa camada permitia que os animais permanecessem inertes à qualquer forma de vida no túnel, oferecendo aos visitantes uma admiração única dos tiranos do mar.

Lara, entretanto, não tinha interesse algum em observar os tubarões e dirigiu-se para a área ao fim do túnel. Um pequeno parque com uma cachoeira e um lago, cuja beleza era exaltada pela persistente chuva criando marolas. Aventureira de longa data, Lara sabia que cachoeiras eram frequentemente usadas como disfarce, e seu palpite quanto à que estava em sua frente estava correto.

A passagem oculta pela cachoeira era escura, como o búnquer. Com um sinalizador em mãos, Lara encontrou um portão aberto em seu caminho ‒ possivelmente acionado pelo mecanismo ativado dentro do búnquer.

As árvores e a paisagem verde ao seu redor, assim como as grades bloqueando sua visão do céu cinzento não lhe deixaram dúvidas: ela agora estava dentro do aviário.

* * *

As exóticas aves perceberam a intrusa, mas permaneceram estáticas nas árvores, como agourentas sentinelas. Lara fez o seu melhor para não acirrá-las enquanto atravessava a rica vegetação. No outro lado do aviário, uma escada natural dava acesso à uma câmara, que, por sua vez, continha um estreito corredor e outra alavanca.

Novamente movida por instinto, Lara acionou a alavanca. Surpreendeu-se ao ver um portão bloquear a passagem pela qual acabara de entrar. Acionando a alavanca uma segunda vez, o portão se abriu. Estou chegando perto, intencionalmente ou não, ela deixou este portão aberto, pensou, enquanto encaminhava-se ao corredor.

* * * 

Certa de que estava prestes a encontrar Sophia para, mais uma vez, resolver as diferenças entre si, Lara percorreu o corredor até uma câmara vazia. Os olhos de Lara demoraram um tempo até se ajustar à iluminação da área: um branco cegante mas que, ao mesmo tempo, não projetava nenhuma forma de sombra.

Qualquer que fosse a origem, a alvura desta sala não era natural. Com um certo esforço, Lara notou a existência de um único ponto de interesse: um pedestal abrigando uma esfera. Uma expressão de surpresa tomou seu rosto após ver o artefato: aparentemente, foi produzido a partir da mesma matéria-prima que os demais artefatos que haviam sido roubados de sua mansão.

Poderiam existir outros que o mundo moderno não havia tomado conhecimento?

O objeto havia encantado Lara de tal forma que ela sequer percebeu que a chuva continuava a cair, mesmo dentro desta claustrofóbica câmara. Lara estendeu sua mão e, ao tocar a esfera, a ilusão da câmara desmoronou.

Antes que qualquer mal acontecesse ao objeto, Lara o guardou em sua mochila. Só então analisou seus arredores: o chão imediatamente abaixo de seus pés se revelou ser uma estreita ponte natural sobre uma poça de lava. A brancura de outrora deu lugar à rusticas paredes, similares às de uma caverna, com diversas plataformas naturais. Na mais alta delas, Sophia.

Observando a confusão no rosto de sua inimiga mortal, tantos metros abaixo dela, Sophia gargalhou. As gotas de chuva contornavam o rosto de Lara, enquanto ela observava o pressuposto momento de triunfo de Sophia. Condescendente, Lara aguardava as novas últimas palavras de Sophia.

"Lara, finalmente," ela proferiu. "Desculpe o pequeno incidente em sua mansão, mas, diga-me, o quê achou do pequeno presente que lhe deixei?"

"Um tanto quanto curioso. Questiono, porém, a facilidade com a qual você abriu mão dele." Lara respondeu.

"As respostas virão," Sophia ironizou, "meu único interesse sempre foi o Olho de Ísis. Graças à ele, sou muito mais do que você jamais será. E, graças à ele, hoje poderei retribuir a gentileza de nosso último encontro."

"Qual deles, Sophia? Foram dois, lembra?"

A fúria tornou-se evidente nos olhos de Sophia, mas ela se conteve e mediu suas palavras para não soar como uma perdedora. "Lembro-me muito bem, obrigado. Mas, marque minhas palavras: antes do amanhecer chegaremos ao ápice de nossas vidas."

* * * 

Antes que Lara pudesse responder ‒  e Sophia sabia que Lara provavelmente tinha uma resposta espirituosa na ponta da língua ‒  Sophia começou a disparar projéteis mágicos com seu cetro. Como quiser, Lara pensou enquanto rapidamente escalava as plataformas para alcançar sua inimiga.

No trajeto, foi atingida uma ou talvez duas vezes pelos projéteis, mas a dor tornara-se subjetiva. A proximidade aos demais artefatos, agora dispersos pela caverna, havia exponenciado o poder do Olho de Ísis.

A distância entre as mulheres era praticamente não existente. Sophia exalava raiva, enquanto Lara transparecia uma desconcertante calma ‒  seu autocontrole era palpável.

Tentando ganhar espaço para atingir Lara, Sophia a empurrou para trás. Lara imediatamente sacou suas duas H&K USP e disparou. Por um breve momento, as balas congelaram no ar, antes de caírem ao chão acompanhadas de uma sinistra gargalhada de Sophia.

De certa forma, uma entidade maior estava protegendo Sophia, que continuava errando seus disparos. Lara já não visava mais um confronto direto; ela sabia que, enquanto não assumisse controle de todos artefatos, seria inútil.

Lara se permitiu um segundo para analisar melhor a situação. Os outros três artefatos estavam em nichos opostos, numa configuração triangular, neste mesmo andar. Nessa breve distração, entretanto, Sophia finalmente atingiu um disparo.

O projétil fez com que Lara caísse para o andar imediatamente abaixo de forma um tanto quanto desengonçada. Um ferimento no braço forçou Lara a improvisar um torniquete rapidamente, e, em seguida, ela rolou por baixo da plataforma onde Sophia estava para sair de seu campo de visão.

Essa pequena vantagem permitiu que Lara voltasse ao andar superior pelo outro lado, mais próxima à um dos artefatos. O som de seu equipamento a traiu, e Sophia involuntariamente disparou enquanto virava-se para avistar a origem do barulho. Sem a devida concentração, o disparo subiu em linha reta, em direção ao céu, e explodiu no ar. A refração da chuva na luz emitida pelo disparo provocou um lindo espetáculo visual, porém, curto demais para que qualquer das moças pudesse tê-lo admirado.

Com o segundo artefato reconquistado, Lara podia sentir a intensidade do campo de força cercando Sophia diminuir. Suas balas ainda não o penetravam, mas chegavam perto o bastante para causar um notável desconforto na loira. Consecutivos disparos permitiram que Lara ganhasse tempo para aproximar-se e saltar sobre ela, em direção ao próximo artefato.

Tantos anos de ginástica lhe serviram bem, Lara pensou, enquanto resgatava o terceiro artefato. A negação de Sophia tornara-se verbal. Repetindo a estratégia de antes, disparando com a mera intenção de criar uma distração, desta vez Lara saltou para o andar inferior e dirigiu-se para o último nicho.

Com posse dos quatro artefatos, Lara ouviu Sophia profanar. Era hora de um toque pessoal.

* * *

Finalmente capaz de se aproximar da loira, Lara a empurrou, derrubando-a para o andar inferior da exata mesma forma que havia caído minutos atrás. Antes que ela pudesse se levantar, Lara sacou uma das H&K USP e disparou na perna esquerda da mulher. Um misto de fúria e agonia tomou conta de Sophia, mas ela não desistiria sem uma luta, então voltou à seus pés com a ajuda do seu cetro.

Lara desceu para o mesmo nível que Sophia, que imediatamente balançou seu cetro como se fosse um taco de beisebol, tentando atingir Lara. Calculando a trajetória do cetro, Lara girou com o movimento, abaixando-se e estendendo sua perna: a rasteira acertou as pernas de Sophia que, mais uma vez, estava estirada no chão, sangrando.

Não havia mais fúria ou sequer agonia, apenas ódio.

Persistente, levantou-se mais uma vez e avançou em direção à Lara. Surpreendida, Lara não conseguiu reagir antes que as duas cambaleassem para fora da plataforma. O instinto de Lara fez com que ela esticasse sua mão direita, conseguindo dependurar-se na beirada da plataforma, e ela ficou feliz por esse recurso natural de sobreviência tão útil, uma vez que imediatamente abaixo de si estava a poça de lava que avistara antes.

Sua inimiga, por outro lado, não podia dizer o mesmo. Seu cetro, seu fetiche, já havia sido consumido pela lava abaixo, e ela estava a segundos do mesmo destino. Sua última lembrança, novamente, seria olhar para cima e encontrar Lara Croft. Não houve tempo para um grito, fosse de raiva ou de desespero, apenas para um penetrante olhar jurando vingança.

* * *

Após testemunhar Sophia desaparecer na escaldante lava, Lara tomou impulso e subiu à plataforma. Sentada, atendeu às suas necessidades médicas. Pareciam pior do que realmente eram, e ela sabia que superaria em pouco tempo, afinal, já esteve em situações muito piores. Abrindo a mochila para guardar os suprimentos, Lara pegou o estranho orbe para um olhar com mais calma.

Enquanto Lara examinava cada entalhe na relíquia, ela não percebeu que a lava abaixo de seus pés havia dado lugar à uma piscina de água cristalina. Um novo dia estava nascendo.

Lara olhou para o céu e, apesar da fina chuva ainda cair incessantemente, uma brecha nas nuvens revelava um tímido, mas persistente, raio de sol do amanhecer. Ventos da mudança, de fato, pensou, enquanto guardava o artefato. Ao se levantar, percebeu a mudança no cenário abaixo de si. O cetro de Sophia, imbuído com o Olho de Ísis, estava no fundo da piscina, esperando para ser recuperado.

Visanto completar a coleção, bem como tentar evitar que o artefato voltasse a cair em mãos erradas, Lara mergulhou e o resgatou. A água era refrescante. Embora o artefato estivesse intacto, não havia vestígio algum de Sophia. Instantaneamente, Lara profetizou seu retorno.

Com o quinto e, esperançosamente, último artefato sob seu controle, Lara retornou à superfície. Somente então ela percebeu que, de onde estava, não tinha como alcançar as plataformas acima e, portanto, a saída. Uma rápida análise das paredes ao seu redor também não revelou nenhuma forma de escalar até lá.

Explorando o fundo da piscina, Lara encontrou na parede um pedaço com um corte aparentemente humano. Assumindo que pudesse ser um botão rústico, Lara o empurrou com força. Duas pedras no fundo se separaram, mas, para sua infelicidade, revelaram um dreno d'água. A água da piscina começou a ser violentamente escoada pela passagem.

Seu instinto de sobrevivência havia lhe falhado mais uma vez naquela noite. A velocidade em que a água escorreu fez com que Lara batesse sua cabeça numa das pedras. Nos poucos segundos antes de ficar inconsciente, Lara notou que poderia encontrar o mesmo destino que Sophia mais cedo do que gostaria...




2004, 2013 Treeble
Este é um artigo amador e puramente ficcional, sem propósitos comerciais. 
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