quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Artigo especial para 29 anos de Tomb Raider

Escrevi o artigo abaixo para o portal PSX Brasil, aqui replicado com autorização. Foi escrito, a pedido, com a chegada de Anniversary ao catálogo de PS2 Classics e o lançamento surpresa de TR2013 para o Nintendo Switch, por isso a publicação não aconteceu no dia do aniversário em si.

A imagem acima foi editada pelo amigo DoppelZgz, do fansite Raiders of the Tomb.


 
Em outubro, a franquia Tomb Raider celebrou seu 29º aniversário, levando-se em consideração a data de lançamento europeia para Sega Saturn — a primeira a chegar ao mercado, em 25 de outubro de 1996, algumas semanas antes do lançamento em demais plataformas e territórios. A exclusividade temporária não significou muito, uma vez que foi no PlayStation e nos computadores que a franquia encontrou um maior público e se estabeleceu como uma grande propriedade intelectual, consolidando o status de sua protagonista como um ícone cultural para uma geração inteira.

O impacto e legado da franquia é inegável, em grande parte pelo seu título original que ajudou a moldar o gênero de jogos de ação e aventura em 3D. Os títulos da extinta Core Design poderiam estar completamente perdidos para o tempo, dependendo de emulação ou de correções desenvolvidas por fãs para garantir compatibilidade dos jogos com sistemas operacionais modernos nos computadores, mas, felizmente, após quase trinta anos, recebemos uma excelente série de remasterizações.

Tomb Raider - Passado

No ano passado, tivemos Tomb Raider I-III Remastered, desenvolvido pela Saber Interactive e Aspyr Media, que surpreendeu ao trazer novos recursos gráficos e modelos completamente reconstruídos na engine original dos anos 1990, na qual o mundo e cenários eram compostos por blocos e formas geométricas rudimentares. A jogabilidade é intrínseca à forma como esses mundos eram criados, portanto, é uma coletânea que talvez não ressoe com gerações mais novas de jogadores, mas é inegável que o trabalho de restauração é incrível.


Tudo começou aqui...

E, surpreendendo a todos, no início deste ano recebemos a segunda trilogia com Tomb Raider IV-VI Remastered. Na época em que foram originalmente lançados, entre 1999 e 2003, a recepção destes jogos já era mista, em particular do sexto jogo (que marcava a transição da série do PS1 para PS2), e mesmo que a remasterização seja feita de forma ainda mais passional do que da coletânea anterior, esse pacote teria dificuldades de qualquer forma para garantir um resultado comercial similar. Os fãs de longa data, sem dúvida, adoram.

Com essas duas coletâneas disponíveis, toda a primeira era da franquia — correspondendo aos jogos lançados entre 1996 e 2003 — está prontamente acessível para as plataformas atuais (incluindo PS4 e PS5). Não apenas isso, mas todos os pacotes de expansão, lançados exclusivamente para computadores paralelamente às respectivas continuações, finalmente estão disponíveis para todos jogadores em todas plataformas.

Com o fraco desempenho comercial de Tomb Raider: The Angel of Darkness em 2003, a então publisher Eidos Interactive transferiu a propriedade intelectual para a Crystal Dynamics, estúdio que até então era responsável e reconhecido pelas continuações da série Legacy of Kain, atribuindo-lhes a árdua missão de revigorar a franquia para que ela voltasse a resultar em lucros para os fechamentos dos anos fiscais.

E é assim que recebemos a segunda era da franquia, composta pela trilogia Tomb Raider Legend, Tomb Raider Anniversary, e Tomb Raider Underworld. Essa repaginada trazia uma protagonista muito mais comunicativa, em um cenários muito mais ricos em detalhes e acompanhados de uma jogabilidade fluída e dinâmica, resultando numa experiência linear e acessível. A franquia, finalmente, estava acompanhando os passos de jogos daquela geração (mais especificamente, a trilogia Prince of Persia: Sands of Time).

Tomb Raider - Presente

Curiosamente, entre o interminável catálogo de jogos que foram lançados para PS2, os dois jogos dessa continuidade que foram originalmente desenvolvidos para aquela geração estão disponíveis no PS4 e PS5 graças ao catálogo de PS2 Classics: Legend foi lançado em junho do ano passado, com uma emulação questionável e de baixa resolução, ao passo que Anniversary foi adicionado ao catálogo agora, no dia 18 de novembro, com um surpreendente salto entre as duas versões.

Legend (PS2 Classics) vs. Anniversary (PS2 Classics)
Não sabemos se esse notável (e extremamente necessário) aumento da resolução interna é resultado de melhorias na emulação ou um mero cuidado maior por parte de quem tenha feito a conversão. Também não sabemos se a ideia da Crystal Dynamics, que passou a ser uma subsidiária do conglomerado Embracer Group em 2022, era oferecer esses simples ports para evitar gastos com possíveis remasterizações, mas, dado o cuidado com os jogos da Core Design, espera-se que essa trilogia seja adequadamente remasterizada no futuro imediato (embora, sim, esses dois jogos tenham sido remasterizadas em 2011 para o PS3).

Além disso, é necessário lembrar que Underworld era um título de PS3, cujo suporte ainda não existe em se tratando de retrocompatibilidade oficial, e a versão para Xbox 360 contava com DLCs exclusivos que, até hoje, são reféns da plataforma. Se as remasterizações dos seis primeiros jogos libertaram conteúdos até então exclusivos para computador para todas as plataformas, resta torcer para que o mesmo tratamento seja estendido e aplicado a essa trilogia também.

A franquia encarou nova turbulência na transição de geração do PS2 para o PS3, mas, dessa vez por pressão externa, com o advento de franquias como Assassin's Creed e Uncharted que se enquadravam no mesmo gênero e conseguiam atrair para si os devidos destaques. Além disso, por uma série interminável de problemas financeiros, a publisher Eidos finalmente foi arrematada e todas suas franquias passaram a ser parte da gigante japonesa Square Enix.

Essa mudança deu um tempo para que a Crystal Dynamics, mais uma vez, pesquisasse formas para revigorar a franquia. Adaptar a jogabilidade para os padrões de jogos de tiro em terceira pessoa, delineados por Gears of War, seria simples, mas não bastaria para distanciar-se do principal concorrente. Assim, ao poucos, o jogo se transformou numa mescla de "ação e sobrevivência", com uma narrativa que girava em torno de uma jovem inexperiente tentando sobreviver a uma série de contratempos em um ambiente inóspito e desconhecido.

E esse reboot total da franquia surpreendeu: o jogo atingiu a marca de um milhão de cópias vendidas em menos de 48 horas, estabelecendo um novo recorde para a franquia. Lançado em 2013, no fim da geração do PS3, o jogo ainda foi um dos precursores para as incontáveis "edições definitivas" que viriam a dominar os primeiros anos do PS4. Curiosamente, foi apenas a partir das vendas combinadas das duas gerações que a Square Enix mudou seu discurso de que o jogo não havia atingido as metas projetadas, mesmo com o supracitado desempenho de vendas.

Agora, quase 12 anos depois, essa edição definitiva foi relançada, de surpresa, para plataformas Nintendo Switch e Switch 2, em um port feito pela Aspyr Media. A Nintendo é notória por não tentar competir com seus concorrentes em termos de hardware, e seus consoles híbridos sofrem uma desvantagem ainda maior quando comparados aos consoles de mesa, mas o jogo está ali. Dentro das limitações da plataforma, funciona, embora a performance seja bastante instável no Switch 1, com diversos saltos na taxa de quadros por segundo e controles analógicos ruins que acrescentam uma dificuldade artificial desnecessária a um jogo que depende de reflexos rápidos. O multiplayer, que por algum motivo foi mantido, causa ainda mais indisposição, mas é seguro assumir que estará deserto e abandonado em uma questão de dias pois nunca foi um modo popular nas outras plataformas.



A franquia principal ainda teve outros dois jogos lançados nessa terceira era da franquia, com Rise of the Tomb Raider (2015) que foi financiado pela Microsoft em troca de uma tenebrosa exclusividade por um ano inteiro, e Shadow of the Tomb Raider (2018), desenvolvido pela Eidos Montréal e que finaliza a suposta trilogia de origens da aventureira. Esses dois últimos jogos foram lançados para PS4 e Xbox One e, assim como o reboot, podem ser jogados no PS5 através da retrocompatibilidade integral para jogos da geração anterior.

Em 2021, enquanto a Crystal Dynamics ainda trabalhava em conteúdos adicionais para Marvel's Avengers, a franquia atingiu o marco histórico de 25 anos. Na ocasião, o estúdio revelou que planejava "unificar" a franquia, de forma a transformar todo o legado da franquia parte de um cânone, mas que um novo jogo ainda não seria revelado tão cedo. Os primeiros passos dessa nova era da franquia, supostamente, aconteceriam na série animada de Netflix, Tomb Raider: A Lenda de Lara Croft, que estreou apenas no final de 2024.

Infelizmente, porém, a animação contradiz a linha temporal e narrativa de eventos acontecidos dentro da própria trilogia de origens, e até mesmo repete certos temas desnecessariamente. Desde que foi anunciada, ainda antes da Square Enix se desfazer da franquia, sabíamos que a série teria duas temporadas, e, também no último dia 18 de novembro, finalmente recebemos o primeiro trailer da segunda temporada. E, a julgar pelo conteúdo, os mesmos temas serão recontados e reciclados mais uma vez. Poderemos conferir pessoalmente no dia 11 de dezembro; uma data um tanto peculiar, pois coincide com a The Game Awards deste ano. Após tantos anos esperando pela revelação formal do próximo jogo da série, seria essa uma dica?


Enquanto não retorna em uma aventura própria, Lara explora horizontes alheios por aí...

Nesses últimos cinco anos, Lara Croft também passou a ser uma das figurinhas mais batidas no que diz respeito a crossovers e colaborações externas. Ela ainda está alguns patamares abaixo de personagens como Sonic e As Tartarugas Ninja — franquias com as quais ainda não houve uma colaboração direta, aliás — mas, considerando-se apenas 2025, por exemplo, vimos nossa garota receber conteúdos em Pinball FX, Dead by Daylight, Fortnite e Rocket League, além de World of Tanks e Hero Wars (esses dois últimos não estão disponíveis para plataformas PlayStation).

Tomb Raider - Futuro

É difícil determinar se o tal cânone unificado ainda faz parte dos planos da Crystal Dynamics, dado o silêncio absoluto sobre o futuro da franquia e também levando em consideração que investidores do Embracer Group possuem suas próprias expectativas a serem atendidas. Sabemos que o próximo jogo usará a Unreal Engine 5 e será publicado pela Amazon Games, e só. Precisamos manter em mente que a própria Crystal Dynamics tem enfrentado dificuldades com essas mudanças: além de frequentes ondas de demissões, a Microsoft cancelou o reboot de Perfect Dark que estava sendo co-desenvolvido pela parceria formada entre o estúdio e a, agora extinta, The Initiative.


“A aventura está à espera”, diz o site oficial.

Independente do escopo desses planos, projetos transmidiáticos da franquia continuam a existir. Em janeiro, uma nova minissérie em quadrinhos será publicada pela editora Dark Horse, curiosamente retomando a continuidade de Underworld. E, após quase um ano de burburinhos e especulações, a série em live-action para Prime Video, encabeçada por Phoebe Waller-Bridge, finalmente encontrou sua protagonista em Sophie Turner, mas esse é outro projeto sobre o qual não sabemos virtualmente nada até o momento.

Entre tantas incertezas, é impossível determinar o que o Ano 30 reserva para os apreciadores de Lady Croft, mas aqui estamos. E aqui permaneceremos.