Escrevi o artigo abaixo para o portal
PSX Brasil, aqui replicado com autorização. Foi escrito, a pedido, com a chegada de Anniversary ao catálogo de PS2 Classics e o lançamento surpresa de TR2013 para o Nintendo Switch, por isso a publicação não aconteceu no dia do aniversário em si.
A imagem acima foi editada pelo amigo DoppelZgz, do fansite Raiders of the Tomb.
Em outubro, a franquia
Tomb Raider
celebrou seu 29º aniversário, levando-se em consideração a data de lançamento
europeia para Sega Saturn — a primeira a chegar ao mercado, em 25 de outubro
de 1996, algumas semanas antes do lançamento em demais plataformas e
territórios. A exclusividade temporária não significou muito, uma vez que foi
no PlayStation e nos computadores que a franquia encontrou um maior público e
se estabeleceu como uma grande propriedade intelectual, consolidando o status
de sua protagonista como um ícone cultural para uma geração inteira.
O impacto e legado da franquia é inegável, em grande parte pelo seu título
original que ajudou a moldar o gênero de jogos de ação e aventura em 3D. Os
títulos da extinta Core Design poderiam estar completamente perdidos para o
tempo, dependendo de emulação ou de correções desenvolvidas por fãs para
garantir compatibilidade dos jogos com sistemas operacionais modernos nos
computadores, mas, felizmente, após quase trinta anos, recebemos uma excelente
série de remasterizações.
Tomb Raider - Passado
No ano passado, tivemos
Tomb Raider I-III Remastered, desenvolvido pela Saber Interactive e Aspyr Media, que surpreendeu ao
trazer novos recursos gráficos e modelos completamente reconstruídos na engine
original dos anos 1990, na qual o mundo e cenários eram compostos por blocos e
formas geométricas rudimentares. A jogabilidade é intrínseca à forma como
esses mundos eram criados, portanto, é uma coletânea que talvez não ressoe com
gerações mais novas de jogadores, mas é inegável que o trabalho de restauração
é incrível.

Tudo começou aqui...
E, surpreendendo a todos, no início deste ano recebemos a segunda trilogia com
Tomb Raider IV-VI Remastered. Na época em que foram originalmente lançados, entre 1999 e 2003, a recepção
destes jogos já era mista, em particular do sexto jogo (que marcava a
transição da série do PS1 para PS2), e mesmo que a remasterização seja feita
de forma ainda mais passional do que da coletânea anterior, esse pacote teria
dificuldades de qualquer forma para garantir um resultado comercial similar.
Os fãs de longa data, sem dúvida, adoram.
Com essas duas coletâneas disponíveis, toda a primeira era da franquia —
correspondendo aos jogos lançados entre 1996 e 2003 — está prontamente
acessível para as plataformas atuais (incluindo PS4 e PS5). Não apenas isso,
mas todos os pacotes de expansão, lançados exclusivamente para computadores
paralelamente às respectivas continuações, finalmente estão disponíveis para
todos jogadores em todas plataformas.
Com o fraco desempenho comercial de
Tomb Raider: The Angel of Darkness em 2003, a então publisher Eidos
Interactive transferiu a propriedade intelectual para a Crystal Dynamics,
estúdio que até então era responsável e reconhecido pelas continuações da
série Legacy of Kain, atribuindo-lhes a árdua missão de revigorar a
franquia para que ela voltasse a resultar em lucros para os fechamentos dos
anos fiscais.
E é assim que recebemos a segunda era da franquia, composta pela trilogia
Tomb Raider Legend, Tomb Raider Anniversary, e
Tomb Raider Underworld. Essa repaginada trazia uma protagonista muito
mais comunicativa, em um cenários muito mais ricos em detalhes e acompanhados
de uma jogabilidade fluída e dinâmica, resultando numa experiência linear e
acessível. A franquia, finalmente, estava acompanhando os passos de jogos
daquela geração (mais especificamente, a trilogia
Prince of Persia: Sands of Time).
Tomb Raider - Presente
Curiosamente, entre o interminável catálogo de jogos que foram lançados para
PS2, os dois jogos dessa continuidade que foram originalmente desenvolvidos
para aquela geração estão disponíveis no PS4 e PS5 graças ao catálogo de PS2
Classics: Legend foi lançado em junho do ano passado, com uma
emulação questionável e de baixa resolução, ao passo que
Anniversary
foi adicionado ao catálogo agora, no dia 18 de novembro, com um surpreendente
salto entre as duas versões.
Não sabemos se esse notável (e extremamente necessário) aumento da resolução
interna é resultado de melhorias na emulação ou um mero cuidado maior por
parte de quem tenha feito a conversão. Também não sabemos se a ideia da
Crystal Dynamics, que passou a
ser uma subsidiária do conglomerado Embracer Group em 2022, era oferecer esses simples ports para evitar gastos com possíveis
remasterizações, mas, dado o cuidado com os jogos da Core Design, espera-se
que essa trilogia seja adequadamente remasterizada no futuro imediato (embora,
sim, esses dois jogos tenham sido remasterizadas em 2011 para o PS3).
Além disso, é necessário lembrar que Underworld era um título de PS3,
cujo suporte
ainda não existe
em se tratando de retrocompatibilidade oficial, e a versão para Xbox 360
contava com DLCs exclusivos que, até hoje, são reféns da plataforma. Se as
remasterizações dos seis primeiros jogos libertaram conteúdos até então
exclusivos para computador para todas as plataformas, resta torcer para que o
mesmo tratamento seja estendido e aplicado a essa trilogia também.
A franquia encarou nova turbulência na transição de geração do PS2 para o PS3,
mas, dessa vez por pressão externa, com o advento de franquias como
Assassin's Creed e Uncharted que se enquadravam no mesmo
gênero e conseguiam atrair para si os devidos destaques. Além disso, por uma
série interminável de problemas financeiros, a publisher Eidos finalmente foi
arrematada e todas suas franquias passaram a ser parte da gigante japonesa
Square Enix.
Essa mudança deu um tempo para que a Crystal Dynamics, mais uma vez,
pesquisasse formas para revigorar a franquia. Adaptar a jogabilidade para os
padrões de jogos de tiro em terceira pessoa, delineados por
Gears of War, seria simples, mas não bastaria para distanciar-se do
principal concorrente. Assim, ao poucos, o jogo se transformou numa mescla de
"ação e sobrevivência", com uma narrativa que girava em torno de uma jovem
inexperiente tentando sobreviver a uma série de contratempos em um ambiente
inóspito e desconhecido.
E esse reboot total da franquia surpreendeu: o jogo atingiu a marca de um
milhão de cópias vendidas em menos de 48 horas, estabelecendo um novo recorde
para a franquia. Lançado em 2013, no fim da geração do PS3, o jogo ainda foi
um dos precursores para as incontáveis "edições definitivas" que viriam a
dominar os primeiros anos do PS4. Curiosamente, foi apenas a partir das vendas
combinadas das duas gerações que a Square Enix mudou seu discurso de que o
jogo não havia atingido as metas projetadas, mesmo com o supracitado
desempenho de vendas.
Agora, quase 12 anos depois, essa edição definitiva foi relançada, de
surpresa, para plataformas Nintendo Switch e Switch 2, em um port feito pela
Aspyr Media. A Nintendo é notória por não tentar competir com seus
concorrentes em termos de hardware, e seus consoles híbridos sofrem uma
desvantagem ainda maior quando comparados aos consoles de mesa, mas o jogo
está ali. Dentro das limitações da plataforma, funciona, embora a performance
seja bastante instável no Switch 1, com diversos saltos na taxa de quadros por
segundo e controles analógicos ruins que acrescentam uma dificuldade
artificial desnecessária a um jogo que depende de reflexos rápidos. O
multiplayer, que por algum motivo foi mantido, causa ainda mais indisposição,
mas é seguro assumir que estará deserto e abandonado em uma questão de dias
pois nunca foi um modo popular nas outras plataformas.
A franquia principal ainda teve outros dois jogos lançados nessa terceira era
da franquia, com Rise of the Tomb Raider (2015) que foi financiado
pela Microsoft em troca de uma tenebrosa exclusividade por um ano inteiro, e
Shadow of the Tomb Raider (2018), desenvolvido pela Eidos Montréal e
que finaliza a suposta trilogia de origens da aventureira. Esses dois últimos
jogos foram lançados para PS4 e Xbox One e, assim como o reboot, podem ser
jogados no PS5 através da retrocompatibilidade integral para jogos da geração
anterior.
Em 2021, enquanto a Crystal Dynamics ainda trabalhava em conteúdos adicionais
para Marvel's Avengers, a franquia atingiu o marco histórico de 25
anos.
Na ocasião, o estúdio revelou que planejava "unificar" a franquia, de forma a
transformar todo o legado da franquia parte de um cânone, mas que um novo jogo
ainda não seria revelado tão cedo. Os primeiros passos dessa nova era da
franquia, supostamente, aconteceriam na série animada de Netflix,
Tomb Raider: A Lenda de Lara Croft, que estreou apenas no final de
2024.
Infelizmente, porém, a animação contradiz a linha temporal e narrativa de
eventos acontecidos dentro da própria trilogia de origens, e até mesmo repete
certos temas desnecessariamente. Desde que foi anunciada, ainda antes da
Square Enix se desfazer da franquia, sabíamos que a série teria duas
temporadas, e, também no último dia 18 de novembro, finalmente recebemos o
primeiro trailer da segunda temporada. E, a julgar pelo conteúdo, os mesmos temas serão recontados e reciclados
mais uma vez. Poderemos conferir pessoalmente no dia 11 de dezembro; uma data
um tanto peculiar, pois coincide com a
The Game Awards deste ano. Após tantos anos esperando pela revelação formal do próximo jogo da série,
seria essa uma dica?

Enquanto não retorna em uma aventura própria, Lara explora horizontes alheios por aí...
Nesses últimos cinco anos, Lara Croft também passou a ser uma das figurinhas
mais batidas no que diz respeito a crossovers e colaborações externas. Ela
ainda está alguns patamares abaixo de personagens como Sonic e
As Tartarugas Ninja — franquias com as quais ainda não houve uma
colaboração direta, aliás — mas, considerando-se apenas 2025, por exemplo,
vimos nossa garota receber conteúdos em
Pinball FX,
Dead by Daylight,
Fortnite e Rocket League, além de World of Tanks e Hero Wars (esses dois últimos
não estão disponíveis para plataformas PlayStation).
Tomb Raider - Futuro
É difícil determinar se o tal cânone unificado ainda faz parte dos planos da
Crystal Dynamics, dado o silêncio absoluto sobre o futuro da franquia e também
levando em consideração que investidores do Embracer Group possuem suas
próprias expectativas a serem atendidas. Sabemos que o próximo jogo usará a
Unreal Engine 5 e
será publicado pela Amazon Games, e só. Precisamos manter em mente que a própria Crystal Dynamics tem
enfrentado dificuldades com essas mudanças: além de
frequentes ondas de demissões, a Microsoft cancelou o reboot de Perfect Dark que estava sendo
co-desenvolvido pela parceria formada entre o estúdio e a, agora extinta, The
Initiative.

“A aventura está à espera”, diz o site oficial.
Independente do escopo desses planos, projetos transmidiáticos da franquia
continuam a existir. Em janeiro, uma nova minissérie em quadrinhos será
publicada pela editora Dark Horse, curiosamente retomando a continuidade de
Underworld. E, após quase um ano de burburinhos e especulações, a
série em live-action para Prime Video, encabeçada por Phoebe Waller-Bridge,
finalmente
encontrou sua protagonista em Sophie Turner, mas esse é outro projeto sobre o qual não sabemos virtualmente nada até o
momento.
Entre tantas incertezas, é impossível determinar o que o Ano 30 reserva para
os apreciadores de Lady Croft, mas aqui estamos. E aqui permaneceremos.

