The Man of Bronze é o terceiro (e último) livro da série
Tomb Raider publicada pela Del Rey tantas luas atrás. De autoria do canadense
James Alan Gardner, ao contrário dos livros anteriores, este vai além, de certa forma, dando uma sensação de continuidade bastante grande ao reaproveitar diversos elementos do livro anterior,
The Lost Cult.
"Reuben Baptiste precisa da ajuda de Lara Croft para transportar uma carga preciosa. Mas antes que Reuben possa revelar qualquer detalhe da missão, ele é assassinado — e Lara se junta ao seu empregador, a misteriosa Ordem de Bronze, para vingar sua morte. A Ordem compartilha com Lara seu maior tesouro: um andróide milenar de bronze com habilidades assombrosas. Mas o andróide está aleijado, sem uma perna, e quem encontrar a perna revelará seus incríveis segredos. Quente nesta trilha está o nêmese de Lara, Lancaster Urdmann, sob comando de um empregador com habilidades estranhas. Enquanto Lara viaja da Sibéria para Austrália para o Rio de Janeiro, ela é envolvida em um antigo conflito de sociedades secretas, intriga, e morte..."
Lancaster Urdmann é, na verdade, o colecionador e traficante de armas e artefatos de quem Lara recuperou alguns objetos no prólogo do livro anterior. Aqui, ele recebe um papel exponencialmente mais importante, além de ser descrito como um homem que põe as mãos à obra, ao invés de simplesmente contratar mercenários para fazer o que precisa. Contraditório até certo ponto, e mesmo com o que está em jogo nesta história, dinheiro não seria um fator importante o bastante para tirá-lo do conforto de sua aposentadoria.
Rebuen Baptiste é um assistente de pesquisas freelancer que nunca trabalhou no campo. Confiável e excelente no que faz, levou Lara até o mosteiro de St. Bernward na Polônia, o quartel general da Ordem de Bronze. Lá, ele vem a morrer após um artefato de bronze, que indicaria a locação das partes faltantes do andróide, explodir. Para vingar sua morte, Lara decide continuar sua missão.
O andróide se vê como um justiceiro
implacável, ligado à sistemas de espionagem internacionais e capaz de rastrear
criminosos. Lara questiona seus princípios, uma vez que muita coisa
mudou desde que Bronze veio a este mundo, mas a Ordem acredita cegamente
nas suas boas intenções. A Ordem é composta por diversas seitas
diferentes; a representante brasileira, inclusive, é adepta da macumba.
Bronze foi decepado em múltiplas partes por seu rival, Silver. Ao longo de todo o curso da história da humanidade, os dois assumiram diferentes papéis; o desmembramento de Bronze aconteceu quando ele era o deus egípcio Osíris, em 8000 AC. Suas partes foram dispersas pelo globo e, aos poucos, recolhidas e reencaixadas no andróide.
Na vida real,
Roger Bacon
supostamente possuia uma cabeça de bronze que era capaz de prever o
futuro. Na ficção, durante as guerras napoleônicas, um barco inglês
capturou um francês que tentava fugir com tesouros egípcios. O capitão,
Greystone, decidiu ficar com uma peça ‒ uma mão de bronze ‒ e quebrou os
dedos dela para distribuir aos seus fiéis tenentes:
Holmes,
Quartermain,
Templar,
Bond e
Croft.
Não por coincidência, todas se tornaram famílias inglesas excepcionais.
Gerações depois, o dedo que foi dado ao lorde Roger Croft foi devolvido
pelo pai de Lara; era parte da herança da família mas, também, de um
artefato roubado.
Entretanto, a exposição prolongada à radiação emanada pelas peças de bronze segregadas pode ser extremamente prejudicial. Além de aparições e mortos-vivos, mamutes com pernas
revestidas de bronze e enguias luminosas fazem parte do espetáculo.
A aventura se desdobra em diversos locais: Varsóvia, na Polônia; Sibéria; o
Mar dos Sargaços, no Atlântico Norte; a península de Cabo York, na Austrália; e o grande final no Rio de Janeiro, no Brasil.
Em cada nova locação, a equipe de Lara aumenta com um novo aliado. Na
Sibéria, o piloto russo Ilya Kazakov. Lorde Horatio, capitão do navio
Unauthorized Intervention
e velho conhecido de Lara, escolta os dois para o Mar dos Sargaços. Por
fim, na Austrália, a zoóloga Teresa Tennant se junta ao grupo. Apesar
de serem frequentemente usados como reféns, todos sobrevivem à aventura.
Na Sibéria, o livro entrelaça o
Evento de Tunguska à história. A explosão teria sido originada por diversos xamãs que teriam enlouquecido devido ao uso contínuo dos poderes do artefato de bronze e teriam decidido por um confronto final para que nenhum deles usasse o seu poder novamente. O confronto aniquilou todos eles. Lara chega tarde demais, pois Urdmann já recuperou o artefato.
No Mar dos Sargaços, a
Primeira Guerra Púnica é trazida à tona. Uma das embarcações de Cartago teria fugido com os tesouros mais preciosos, incluindo um certo apetrecho de bronze. Eventualmente, a embarcação tornou-se o centro de um conglomerado de destroços que foram atraídos pelo artefato. Apesar de Lara vencer a corrida ao artefato, ela é obrigada a render-se para salvar a vida de seu aliado Horatio, único sobrevivente da tripulação do
Unauthorized Intervention.
Apesar das aberrações encontradas nos locais anteriores, é na Austrália que Lara encontra a mais peculiar de todas. Dentro de um labirinto onde o artefato estaria escondido, Lara invoca o poder dele sem pensar nas possíveis consequências. Eis uma tradução livre de um segmento do livro que eu achei particularmente intrigante:
Enquanto eu observava, uma figura apareceu e cutucou o sacerdote com a bota, certificando-se de que o cadáver estava realmente morto. Eu reconheci a bota. Eu também reconheci as pernas expostas, os coldres nas coxas e os shorts estilosos-mas-funcionais. Eu até mesmo reconheci as pistolas e o rabo de cavalo. A única coisa que eu não reconheci era o brilho de bronze pulsante que a cobria: como uma camada de tinta de bronze sobre a pele, roupas e até mesmo armas da mulher.
Uma versão de bronze minha. Lara Metálica. Hurrah, eu pensei. Tenho uma gêmea do mal.
A batalha contra a intitulada "Dark Lara" é bastante breve, mas curiosa. Ao retornar para superfície, Lara não localiza nenhum de seus aliados e um tranquilizante a impede de encontrá-los. Ela acorda no esconderijo de Silver, localizado no Brasil (na, imagino fictícia, Baía da Prata).
Silver sempre usou maquiagem para poder existir entre os humanos. Sua grande paixão eram as mulheres, de todas as cores e formas ‒ ele foi, essencialmente, o maior amante que já existiu. Nunca teve problema com dinheiro pois, assim como Urdmann, o tráfico de armas sempre foi o negócio mais rentável da história.
Com seus poderes mágicos/tecnológicos (existe uma grande ambiguidade aqui, o livro nunca deixa claro a origem dos andróides), Silver equipava Urdmann e seus mercenários com Escudos de Prata: granadas de prata líquida que envolviam o usuário com uma camada impenetrável de prata por um período de tempo. Essa camada, extremamente gelada, era capaz de apagar chamas e estilhaçar objetos que entrassem em contato.
Por fim, Silver consegue manipular Lara sem que ela percebesse. Ao consultar uma amiga na UFRJ, Lara descobre que a perna de bronze que roubara do esconderijo não era, de fato, a peça que faltava à Bronze mas algo que, novamente, desmembraria o andróide ‒ permitindo a Silver mais alguns milênios em liberdade. Obviamente, Lara consegue reverter a situação e punir tanto Silver quanto Urdmann pela morte de Reuben; nesse momento, entretanto, a questão já passa a ser outra: impedir que mais pessoas morram por conta dessa perseguição.
Em momento algum o calibre das pistolas de Lara é mencionado, mas ela novamente carrega consigo o sistema VADS. Desta vez, o sistema está carregado com munição comum, balas de prata, explosivas, incendiárias e, também, balas de festim.
E uma pequena curiosidade: em diálogo com Lara, o capitão Horatio faz uma analogia à Sir Francis Drake. Familiar?
GARDNER, James Alan
Lara Croft: Tomb Raider - The Man of Bronze
Estados Unidos
Del Rey Books
2005
294 páginas
ISBN 0345461738
|