domingo, 12 de novembro de 2023

Pensamentos pós Project Eden

Project Eden é um dos pouquíssimos jogos que eu comprei no lançamento por conta de publicidade. Quando foi lançado em 2001, o marketing do jogo colocava bastante ênfase no fato que era um novo produto da equipe que havia criado os dois primeiros jogos da série Tomb Raider. Em território nacional, a GreenLeaf, então representante local da Eidos, também usou essa abordagem.
 
Embora eu ainda possua a versão original e bem conservada, eu estava com dificuldades em seguir com a sua instalação em meu sistema atual. A solução veio na forma de uma segunda aquisição do jogo, desta vez em formato digital, disponível na plataforma GOG por um preço simbólico. Acredito que esse era um dos jogos mais importantes a se jogar para alimentar o marcador Softografia aqui no meu blog, e foi a primeira vez que revisitei o jogo nesses mais de 20 anos desde seu lançamento.

Para contextualizar um pouco melhor, este foi o primeiro jogo do estúdio lançado para PlayStation 2 e usa uma versão aprimorada do editor de níveis que conhecemos — você pode conferir algumas imagens do editor no site Core Design Tribute. Mas não se deixe enganar, não existem semelhanças entre os jogos e ele era (muito) melhor em minhas lembranças do que na realidade. Vale notar que as poucas análises agregadas no Metacritic são mistas, mas a média é favorável.
 
 
A ambientação por si traz uma abordagem bem única e distópica: a superpopulação no planeta forçou a civilização a construir cidades sobre cidades, resultando em verdadeiras colmeias humanas. O ar puro e a luz solar se tornaram privilégio dos ricos, enquanto que os níveis inferiores ficaram para os menos afortunados. Esses níveis, considerados abandonados, são visitados por equipes de engenharia apenas para verificar se a fundação das megacidades está em ordem.

A Agência de Proteção Urbana (UPA) é acionada quando todos os sistemas de uma fábrica de carne sintética param de funcionar simultaneamente e os engenheiros enviados para os reparos desaparecem. Aos poucos a história progressivamente muda de foco: um dos engenheiros biólogos da tal fábrica roubava equipamentos para experimentos próprios e a equipe descobre que ele é o pai de Minoko, integrante da equipe, com quem ela perdeu contato há mais de quinze anos. 
 
Os residentes desses níveis mais pobres começam a sofrer mutações genéticas e cibernéticas sem explicação. Chegando no nível mais baixo das profundezas, ironicamente chamado de Éden, a equipe descobre que o pai de Minoko estava tentando salvar a vida de sua outra filha e, como o seu corpo estava rapidamente se deteriorando, ele fez upload de sua consciência para um computador. Como resultado, a "menina" se espalhou por toda a rede em busca de um novo corpo perfeito para ser seu novo hospedeiro, alguém que compartilhasse um DNA compatível, ou seja, sua irmã há tanto tempo perdida...
 
 
Você assume o controle simultâneo e paralelo de quatro personagens da UPA: Carter é o líder do esquadrão e chefe de segurança, possuindo credenciais para abrir portas de pontos de controle e interrogar NPCs; Minoko pode hackear sistemas de segurança, como câmeras e portas; Andre pode consertar equipamentos quebrados; e, por fim, Amber, mais máquina do que mulher, pode passar ilesa por ameaças ambientais, como fogo e gases tóxicos. Em muitos casos é necessário deixar um personagem segurando um painel para que os demais personagens consigam realizar ações adicionais para avançar.

Todos os personagens possuem acesso a drones, tanto terrestres como voadores, para explorar túneis de ventilação ou acionar botões fora do alcance. Como a movimentação dos personagens é bastante restrita, sem a possibilidade de saltar sobre pequenos buracos, por exemplo, essas ferramentas surgem como uma alternativa para navegar os cenários de forma um pouco menos convencional. Você pode acionar os drones a qualquer momento, mas normalmente quando chega em uma área aparentemente sem saída certamente irá perceber uma pequena abertura na sala perfeita para seus brinquedos.
 
Apesar de que cada personagem possua uma atribuição própria, na prática isso apenas significa que para avançar em certos momentos será necessário deslocar um personagem específico para interagir com determinado objeto. Mesmo assim, de forma não-irônica, a Core estava na vanguarda da indústria com esse conceito: jogos cooperativos com fundações similares se tornaram bastante populares com facilidades de jogatina online introduzidas na geração seguinte de consoles (ou seja, Xbox 360 e PlayStation 3). 
 
 
Outro exemplo se dá pela forma que os personagens ressurgem após morrer: os checkpoints do jogo são chamados de "regen station", e quando um personagem morre, um túnel de luz o teleporta para o último checkpoint onde o corpo é literalmente regenerado. Esse é um sistema comum em jogos cooperativos online: Borderlands, que veio oito anos mais tarde, faz isso de forma idêntica.
 
Para jogadores solitários, controlar quatro personagens significa que você sempre terá três deles parados. Existem apenas dois comandos que você pode disparar para os outros membros da equipe, "sigam-me" e "parem", e a inteligência artificial não é particularmente boa em seguir o caminho que você trilha, então muitas vezes você precisa repetir o mesmo trajeto com cada personagem para que todos cheguem ao destino desejado. Os personagens controlados pela IA também não parecem saber o que fazer durante o combate, geralmente morrendo com facilidade no processo.
 
Fora isso, é notável que o estúdio enfrentava problemas em acompanhar os avanços da indústria como um todo. As animações dos personagens (inclusive cenas em computação gráfica, confira abaixo) são rígidas e truncadas; o jogo dá pouquíssimas dicas de como avançar e, em muitas ocasiões, é difícil prever o que os designers esperam que você faça; e o sistema de combate é muito raso — e infelizmente acaba se tornando um fator cada vez mais frequente conforme você avança na campanha. 
 

A campanha é composta por onze níveis, todos bastante extensos, especialmente se você decidir encarar o jogo sem ajuda. Lá pelo quinto ou sexto nível, eu desencanei e decidi recorrer a um detonado para me guiar pelo restante da jornada; exatamente como eu havia feito a primeira vez que havia terminado o jogo décadas atrás. O "desafio" por si não é o único problema, afinal todos temos inúmeras outras tarefas e responsabilidades para conciliar no cotidiano. Mesmo assim, levei cerca de 15 horas para finalizar a aventura. 
 
De forma geral, é um jogo dispensável, mas fãs fervorosos do estúdio talvez encontrem algo aqui.
 
Executar como administrador usando GOG Galaxy

Para fins de registro apenas, é necessário executar o jogo como administrador para que ele funcione corretamente. Para fazer isso usando o aplicativo GOG Galaxy, abra o menu de opções e escolha Gerenciar Instalação → Configurar... Na próxima tela, vá para aba Recursos e insira a linha a seguir no campo Argumentos:

 runas /user:%ComputerName%\Administrator 

Essa solução foi postada neste tópico do Reddit.