sábado, 5 de março de 2022

Pensamentos pós Guardians of the Galaxy

Demorei muito mais do que o ideal, mas finalmente tive a oportunidade para conferir Marvel's Guardians of the Galaxy, o mais recente projeto da Eidos Montréal — estúdio que liderou o desenvolvimento de Shadow of the Tomb Raider — e o segundo fruto do contrato firmado entre a Disney e a Square Enix.

Em ocasiões anteriores eu provavelmente citei que tenho ressalvas quanto à superpopularidade do Universo Cinematográfico da Marvel, e boa parte se dá pelo filme dos Guardiões da Galáxia que, literalmente, colocou esses personagens no radar do mundo inteiro da noite para o dia. Quando favoreceram a inclusão de Rocket Raccoon em Marvel vs Capcom 3, ao invés de outros nomes maiores, me parecia uma pura jogada de marketing da Disney para capitalizar no sucesso irrefreável dos filmes. Estavam eles errados? Não.

Hype geralmente causa um efeito reverso em mim, e quando soubemos que após Marvel's Avengers receberíamos justamente um jogo de GotG, admito que senti uma certa indisposição de forma geral, e a recepção deste jogo foi relativamente boa, recebendo nomeações e prêmios por sua narrativa. Eu tinha motivos de sobra para não gostar desse jogo, mas fico feliz em afirmar que é um dos jogos mais divertidos que toquei nos últimos anos.


E isso, curiosamente, é em grande parte por conta dos próprios personagens. A forma como todos relacionam-se entre si, e com os eventos da trama maior, funciona naturalmente e muito bem, e os diálogos são descontraídos e incessantes. Poucos são os momentos de silêncio, e cada expressão reflete os traços de personalidade dos personagens em relação às ações que o jogador toma. Explorar becos, encontrar itens, contrariar ideias; tudo provoca reações contextuais de seus parceiros.
 
Ao contrário de Avengers, a estrutura aqui é por capítulos extremamente lineares. Ao todo, são 16 níveis que levam os mercenários a uma variedade notável de planetas, cada qual com seus biomas, mas sempre "empurrando" o jogador numa trajetória quase que reta. A exploração e caminhos paralelos são mantidos a um mínimo, geralmente resultando em recursos ou colecionáveis, mas honestamente não é algo ruim. Em termos gerais, lembra bastante Legend (que eu amo, sim).

Embora o único personagem jogável seja Star-Lord, que resolve "enigmas" navigacionais com o uso de suas armas elementais e botas para saltos duplos, é possível comandar os outros membros quando necessário. Drax pode carregar blocos pesados; Gamora pode se ancorar em paredes para oferecer um impulso a Star-Lord; a baixa estatura de Rocket permite-lhe acessar passagens pequenas; e Groot pode manipular raízes para improvisar pontes. 


Isso, claro, sem citar o combate, onde cada um tem habilidades especiais que você ativa enquanto corre, desliza e faz piruetas ao mesmo tempo em que dispara com as pistolas duplas (sim) do protagonista. O sistema de combate é fluído e dinâmico, combinando mira livre com um sistema de trava. É impossível não compará-lo com o combate dos jogos anteriores ao reboot da série Tomb Raider por conta de sua natureza acrobática e, sinceramente, espero que sirva como um ponto de referência para futuros jogos da aventureira. Confira o vídeo ao final da postagem para ver esse sistema em ação.
 
Existem outras mecânicas de jogo, claro, mas uma que gostaria de destacar é o "huddle". Quando uma barra em específica é preenchida, você pode reunir a equipe para discutir a estratégia. Se você identificar as palavras-chave nas falas de seus companheiros e escolher a opção correta, Star-Lord fará um breve discurso motivacional que resultará não apenas em buffs ao time todo, mas o restante do confronto se desdobrará ao som de uma das incríveis faixas "good vibes" de seu toca-fitas.


Por outro lado, a linearidade do jogo resulta em uma vida útil curta, que toma cerca de 15 horas para ser finalizado. É quase três vezes mais longo que o supracitado TRL, mas o fator replay aqui não parece existir. Existem diversos colecionáveis, inclusive trajes (e, aliás, trajes do MCU estão entre eles, talvez em resposta às críticas que Avengers recebeu em seu lançamento), e no decorrer da história você tomará decisões que afetam o andar da história mas não seu resultado final. Considerando que nos tornamos reféns de jogos de mundo aberto que exigem cada vez mais tempo e dedicação, essa pode ser uma grata mudança de paradigma. 

Antes de encerrar, é necessário citar que a Square Enix recentemente manifestou descontentamento com a performance comercial de GotG — algo que eles têm feito rotineiramente com todos os jogos desenvolvidos pelos estúdios da antiga Eidos Interactive. Dito isso, é inegável que (o também divertido, em minha opinião) Avengers tenha causado alguma forma de receio em jogadores em potencial.

Resta agora esperar para ver se os chefões vão investir em um terceiro jogo nessa parceria.