segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Anotações de The Blade of Gwynnever

Ao que parece, eu segui a mesma tendência do livro Lara Croft and the Blade of Gwynnever em si e demorei mais do que o previsto. Geralmente falando, é seguro dizer que este livro é muito mais interessante do que The Ten Thousand Immortals, embora seja de autoria dos mesmos autores, o casal Dan Abnett e Nik Vincent

Por favor, esteja avisado que esta postagem contem spoilers.

"Depois de ser traída por uma competidora implacável em uma corrida para recuperar um tesouro inestimável, Lara Croft volta para casa para cuidar de seus ferimentos. Antes que possa se recuperar, um desesperado chamado de ajuda de um velho amigo leva Lara a uma escavação secreta abaixo das ruas de Londres.

Enquanto investiga o sítio, Lara faz uma descoberta tão espetacular que poderia reescrever a história das Ilhas Britânicas — e talvez até do mundo. Essa escavação coloca Lara em um perigoso e sombrio mundo de espionagem, conspiração, e tráfico no mercado negro. Com sua reputação e vida em jogo, Lara embarca em uma missão ao redor do mundo para recuperar uma preciosa antiguidade que poderia ligar o mundo moderno a mitos antigos. Com velhos inimigos e novas ameaças se unindo para impedi-la de descobrir a verdade, Lara deve determinar o verdadeiro segredo de uma espada misteriosa e lendária."
Não tenho certeza até onde o uso de Carter Bell é intencional, mas ele acabou já se tornando um nome fixo na subfranquia Lara Croft, tendo aparecido em Temple of Osiris, Relic Run e na série em quadrinhos The Frozen Omen. Engraçado, porém, é que o livro não faz esforço algum para inserir referências dessas aventuras anteriores. O mais perto, talvez, é quando Lara elogia seu domínio em Egiptologia.

O livro possui um estilo de escrita cansativo, e embora o tema central da trama seja interessante — uma possível ligação entre os egípcios e a civilização que habitava a Inglaterra na era de bronze —, volta e meia me vi perdendo o interesse. Em outros momentos, porém, a história me parecia uma versão distorcida e alternativa de Legend.

Explico: Gwynnever era rainha na lenda do rei Arthur. Nesta história, sua espada era uma de um conjunto de sete espadas iguais em sete locais diferentes do mundo, onde uma grande rainha guerreira surgiu e governou. Em aparência, porém, ela difere bastante do artefato de TRL: é de dois gumes, medindo cerca de 75cm, e talhada impecavelmente a partir de um único bloco de obsidiana, como um espelho negro com um toque de azul marinho. Apesar de sua idade, não apresentava sinais de desgaste.

A espada de Gwynnever era o interesse principal de Florence Race, nêmese de Lara Croft na história. Sim, ela é loira. Uma caçadora de tesouros inescrupulosa, com uma palpável admiração por todas as grandes figuras femininas da história da humanidade. Em sua cabeça, ela era digna de ser a próxima rainha guerreira, precisando apenas da espada para tal.

Após a introdução de Florence em um prelúdio no Sri Lanka, a aventura se desdobra a partir de um sítio arqueológico em Londres (chamado Candle Lane), com uma rápida passagem pela Turquia antes de atingir o ápice no Egito, com um segundo confronto em Candle Lane para encerrar.

O sítio arqueológico londrino foi descoberto durante um projeto de renovação do metrô, abaixo de uma estação abandonada desde os anos 1950. Carter havia sido chamado para o local após a equipe ter encontrado uma câmara com artefatos e hieróglifos egípcios, e ele imediatamente telefonou para que Lara viesse assim que possível. Quando ela volta do Sri Lanka, ela encontra a escavação isolada e protegida por segurança máxima.

Isso, obviamente, não é empecilho para ela, e além dos artefatos egípcios, ela encontrou resquícios de um avião alemão da Segunda Guerra Mundial ali, ainda armado. A Divisão Onze, um comando secreto do Ministério da Defesa, rende ela e explica que o local foi isolado por conta das armas nazistas que contêm um agente tóxico capaz de afetar o sistema nervoso e causar alucinações, como a suposta câmara egípcia que ela encontrou...

Mais tarde, quando Lara e Carter finalmente se encontram, ele questiona se todos no local teriam sofrido a mesma alucinação, caso a explicação do ministério fosse plausível, e coloca essa afirmação em cheque ao mostrar fotografias do local. Será que aquela câmara era uma espécie de museu de uma sociedade secreta e rica da era vitoriana, ou prova de uma possível conexão entre o Novo Império Egípcio e o povo local?

O obelisco conta com referências ao faraó Aquenáton, cujo regime é lembrado por ser centrado em uma única divindade — uma possível influência da cultura inglesa da época. Outras referências citavam uma rainha local chamada Gwynnever, para incredulidade de Lara. A espada encontrada no local era feita de obsidiana, apesar de ser datada da era de bronze, quando armas de ferro eram mais comuns que as de pedra. Poderia ser uma mera cópia cerimonial, encaixada perfeitamente em uma pedra. Carter acredita que o sítio era um túmulo, literal ou simbólico, para a mitológica rainha Guinevere.

De forma bastante resumida, a espada foi roubada e levada para um traficante de antiguidades na Turquia. Lara se vê obrigada a recrutar um velho conhecido, que já a traiu no passado, para entrar no leilão onde ela identifica uma facção de mercenários, que ela apelida de "Cabeças-de-Lobo", cercando a espada. Mais tarde, é revelado que o real interesse dessa facção era o conteúdo do avião nazista, o suposto agente alucinógeno. Esse interesse paralelo, porém, não impede confrontos com Lara e Florence, além da Divisão Onze.

A espada foi levada para o Cairo onde a compradora, Florence Race, aguardava. Ela escolheu a Tumba de Tutancâmon por ser repleta de mistérios e anomalias, mas, na verdade, ela havia descoberto a tumba perdida de Nefertiti ali dentro. A câmara era exatamente igual à de Candle Lane, então ela explica que existiam sete câmaras e espadas ao todo, e que Nefertiti havia sido a primeira e mais importante das rainhas matriarcas.

De alguma forma, Florence sabia realizar os rituais do matriarcado, o que faz com que a tumba seja tomada por elementos sobrenaturais. Quando Lara toma o artefato, ela vivencia memórias das outras rainhas, além de conseguir invocar e comandar elementos sobrenaturais. De certa forma, é como se a espada tivesse escolhido Lara como a próxima rainha matriarca. Após a fuga, ela desmaia e acorda três dias depois, em casa e com a espada, convencida de que o artefato deve ser devolvido ao seu lugar de origem em Candle Lane.

Na escavação, o conflito aberto entre os mercenários de Florence, Lara e Carter, os Cabeças-de-Lobo e a Divisão Onze não ocorre dentro da câmara: o ritual causa uma "alucinação coletiva", e uma densa névoa transforma o ambiente em uma floresta repleta de árvores, lobos e ursos — animais que não habitam as ilhas britânicas há muito tempo. Portando a espada, Lara é capaz de controlar essas forças da natureza (risos), e quando o conflito chega ao fim, a névoa se dissipa e a floresta desaparece num piscar de olhos. A espada é devolvida a pedra de origem.

Dias depois, Lara pessoalmente visita o Ministério da Defesa. Ela pede para que a estação de Candle Lane seja enterrada, e que o projeto de renovação dos metrôs seja redirecionado para não perturbar o local. Ela mente, dizendo que o gás do avião nazista é responsável por tudo que transcorreu e é melhor não correr riscos. Carter entende a decisão, embora manifeste sua decepção. A responsável pela descoberta inicial, porém, diz que não vai desistir, pois existe muita história enterrada abaixo de Londres...

Enfim, esse "resumo" acaba relevando diversos elementos da história, então uma leitura adequada do mesmo se faz necessária para os fãs insaciáveis. Honestamente, torço para que futuras publicações, se existirem, contem com novos autores. Após o questionável The Ten Thousand Immortals (que chegou a ser lançado no Brasil, inclusive), não entendo porquê insistiram com Dan e Nik — e também não podemos esquecer que esse segundo livro sofreu diversos atrasos.

Curiosidades triviais: Lara fala turco; é famosa por sua especialização (e, ainda assim, não foi reconhecida pelo líder dos Cabeças-de-Lobo); porta duas Sig Sauer 9mm; e, a mais intrigante de todas, usou Samantha como nome falso para entrar no leilão ilegal. Que ironia.


ABNETT, Dan; VINCENT, Nik
Lara Croft and the Blade of Gwynnever
Estados Unidos
Penguim Random House
2016
349 páginas
ISBN 9781465441416