No mais recente podcast oficial da Crystal Dynamics, a Meagan Marie nos presenteou com um belo resumo sobre a cultura egípcia, tema constante nos jogos da franquia e, claro, base do recente Temple of Osiris. Eu achei deveras interessante e decidi fazer uma tradução livre do mesmo para o blog.
Não domino mitologia e afins, então peço desculpas por eventuais falhas na tradução. Aproveitando o gancho, vou deixar um link para o portal The Archaeology of Tomb Raider, que tem como foco entrelaçar as expedições e descobertas dos jogos com fatos arqueológicos do mundo real.
Não domino mitologia e afins, então peço desculpas por eventuais falhas na tradução. Aproveitando o gancho, vou deixar um link para o portal The Archaeology of Tomb Raider, que tem como foco entrelaçar as expedições e descobertas dos jogos com fatos arqueológicos do mundo real.
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A inscrição diz: "Uma noite, em sonho, veio até mim, o espírito da esfinge. Em sua passagem, ele falou para mim, palavras de grande sabedoria. Tutmés, este é o seu verdadeiro destino. Esta terra do Egito será para sempre governada por você. [...]"Lara Croft é uma aventureira experiente. Suas expedições já a levaram ao redor do mundo diversas vezes, viajando de becos sombrios em ruas parisienses, para densas selvas na Índia e, até mesmo, as paisagens geladas e isoladas da Antártida. Ela também localizou a cidade de Atlântida – nada de demais até aí.
Apesar de tantas viagens, muitos fãs concordam que a expedição arqueológica quintessencial é uma que coloca Lara ante o sol e areia do Egito; como já vimos no Tomb Raider original, em The Last Revelation, no jogo para celulares The Osiris Codex e, mais recentemente, em Temple of Osiris. Isso sem considerar suas viagens para a terra do Nilo nas histórias em quadrinhos, como a confusão com a deusa felina Bastet na série da Top Cow.
Lara não está sozinha nessas aventuras. Indiana Jones foi levado ao Egito em sua busca pela Arca da Aliança; e Rick e Evelyn, em tentativas altruístas para desfazer seus erros em A Múmia. Esses contos fictícios, claro, não deixam para trás situações reais. Howard Carter, por exemplo, descobriu a Tumba de Tutancâmon e acreditava-se que ele havia tornado-se uma vítima da Maldição dos Faraós por isso. A exploradora e escritora do século XIX, Amelia Edwards, compilou suas ilustrações e diários de viagem no best-seller de 1887, A Thousand Miles Up the Nile. Essas descobertas serviram como catalisador para o aumento no interesse pela cultura egípcia, chamado de "Egitomania" em um sentido mais amplo. Essa influência pode ser vista nos dias de hoje, como o obelisco em Washington D.C. e a Ponte Egípcia em São Petersburgo.
O mundo é um lugar cheio de intriga e aventura, então por que o Egito se destaca como um oásis para a fantasia e ficção?
O History Channel responde bem: o Egito detém uma cultura tão rica que recebeu um campo de estudos próprio. É tido como uma das origens da civilização e dono de uma das mais longas histórias de qualquer país moderno. Assim, oferece uma variedade e profundidade incrível de inspiração.
Em particular, o Egito tem um legado incrivelmente bem preservado de arte e escrita. Hieróglifos e suas variações menos formais de escrita nos permitem ler e compreender muito sobre a vida no Antigo Egito, bem como as histórias mais fantásticas descritas em textos religiosos. Não é necessário exercitar sua imaginação, pois os contos são tão ricos em detalhes que merecem diversas leituras.
A descoberta da Pedra de Roseta, inscrita com hieróglifos egípcios antigos, demóticos e grego antigo, serviu como chave para o entendimento moderno dos hieróglifos e, como tal, abriu a cultura egípcia para o restante do mundo. E existia muita coisa: materiais religiosos, textos funerários, hinos e rituais, decorações de templos e muito mais. Como esquecer o Livro dos Mortos, fragmentos de um texto funerário contendo centenas de feitiços destinados a ajudar a navegação na pós-vida?
As histórias contadas por esses textos e murais são oportunas para aventura. Os deuses servem perfeitamente como antagonistas – ou aliados. São personificações literais do bem e do mal, da vida e da morte, do caos e da ordem. As linhas já estão traçadas.
O mito de Osíris, um dos mais elaborados dentre os mitos antigos, é explorado em LCTOO. Algumas liberdades criativas foram tomadas, mas o núcleo central permanece fiel a sua origem. Alisha Thayer, designer, era parte da equipe que decidiu explorar esse mito no jogo, tomando como ponto de partida conceitos iniciais de Guardian of Light:
Debatemos algumas ambientações entre as opções, mas era o Egito que criava o maior entusiasmo na equipe, então passamos um tempo nos familiarizando com a mitologia egípcia e alguns dos seus principais elementos. O mito de Osíris foi uma escolha fácil, pois ele se adaptava perfeitamente a estrutura de um videogame: Osíris foi assassinado por Set e dividido em um número de partes diferentes, mudando de história para história, o que nos oferece uma busca divertida e tematizada por essas partes para estruturar a progressão por níveis.Quando a equipe decidiu que usaria o mito de Osíris, eles afirmam que os personagens caíram facilmente em seus lugares. Ísis reuniu as partes de Osíris para conceber seu filho, Hórus, tornando ambos opções viáveis para personagens jogáveis.
Quanto aos outros deuses, tivemos reuniões onde discutíamos nossos personagens e temas favoritos. Rá era mencionado com frequência, no início, pois trabalhávamos com ideias de luz e trevas e ele é uma divindade solar, mas também possuía uma barca com a qual viajava pelo céu e pelo submundo, e nós adorávamos a ideia de um nível ambientado numa barca solar mágica! Rá e Set foram citados, pois enfrentaram Apep juntos, e nós adoramos a ideia uma cobra gigante como chefe. E, se você já jogou, sabe que mantivemos Apep como chefe.Set é um rosto familiar para os fãs: foi introduzido à franquia quando Lara o libertou acidentalmente em TLR. Em uma nota paralela, de acordo com Alisha, em dado momento a equipe considerou ligar LCTOO a TLR, com Lara presa no submundo e tentando encontrar uma forma de escapar, mas decidiu fazer do jogo um sucessor espiritual ao invés de um cronológico.
Seguir as regras do Egito significa que a morte não é o fim. É o início de uma nova aventura, com ainda mais desafios à perseverança. Se os mortos atravessarem portões com espíritos e outras monstruosidades, têm seus corações pesados em uma balança pelo deus Anúbis. Caso o coração seja pesado, ele é rejeitado e devorado por Ammit, devoradora de almas, e o indivíduo nunca chegará ao paraíso.
Como Alisha disse, usar o Egito como ambientação significa que os chefes praticamente se escrevem sozinhos. Ammit é um demônio fêmea, parte leão, parte hipopótamo e parte crocodilo. Apep é uma serpente gigante inimiga de Rá, conhecida como personificação do caos e de tudo que é mal. Era quilométrica, tão grande que tentava engolir o sol todos os dias. Em LCTOO, está no centro de uma batalha com toques de quebra-cabeça.
Khepri, um deus-escaravelho e divindade solar, rolava o sol ao redor dos céus da mesma forma que um escaravelho rola esterco. Sabe como isso funcionou no jogo?
Um dos designers, Jeff Wajcs, sempre quis fazer um contronto contra chefe em uma esfera rolante, então adaptou a ideia ao mito de Khepri. Narrativamente, Khepri era um bom começo pois seu mito entrelaça temas que se repetem diversas vezes na mitologia e iconografia egípcia: sol, escaravelhos, renascimento, vida e morte, luz e trevas – tudo que estávamos usando nas mecânicas iniciais de jogo.Como se pode ver, são mitos grandiosos e cheios de conflitos que remetem à dualidade da natureza humana. Um encaixe perfeito para cultura popular e, também, para um jogo.
As conquistas do Antigo Egito no reino físico também são incríveis. O Egito é lar para monumentos que superaram o teste do tempo, seja as pirâmides, criptas ou esfinges. Quem não gostaria de explorar o Vale dos Reis ou a Necrópole de Tebas, inspirado tão somente pelos seus nomes?
A melhor parte: a origem de algumas das maiores e mais velhas estruturas do mundo, como a Grande Esfinge de Gizé, ainda são foco de discussões. Quando ela foi construída? Por quem? Para que fins? O conceito da "charada da esfinge" é baseada em sua natureza enigmática, novamente soprando um ar de intriga sobre o Antigo Egito.
Até hoje novas descobertas continuam sendo feitas; expedições continuam ano após ano. De acordo com a National Geographic, até 1922 acreditava-se que existiam apenas 62 tumbas no Vale dos Reis; e, então, Howard Carter descobriu a Tumba de Tutancâmon. Em 2005, outra tumba foi descoberta a menos de 20 metros das paredes do lugar de descanso final do Rei Tut. Em janeiro deste ano, uma réplica antiga da mitológica Tumba de Osíris foi desenterrada. Quem sabe o que mais ainda será descoberto?
Contemplando a árida e desolada vastidão do deserto do Saara, você não consegue evitar o sentimento de que muitos segredos ainda aguardam suas revelações. O tempo e areia retomam tudo; ao menos, até que algum aventureiro, como Lara Croft, surja para encontrá-los.